terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Um mergulho em Portugal

Fados, documentário de Carlos Saura, instiga o gosto pela música e desperta a vontade de conhecer o país
Um canto chorado, um choro cantado, um fado. Seja fado de Lisboa, fado menor, modinhas, fado de Cabo Verde, fado flamenco ou Alfacinha. O gênero é um só e é português em essência, sendo expressão da cultura nacional e sobrevivendo aos mais diversos períodos históricos. O fado não só se sustentou com força e manteve a delicadeza através dos anos, como se modificou, abrindo espaço para novas possibilidades fadistas. E são exatamente essas possibilidades que o diretor espanhol Carlos Saura mostra em seu documentário "Fados".
Combinando música, dança e coreografias fascinantes, o longa de 2007 é uma colagem sensível de diversas vertentes do gênero. Representações iluminadas por luzes ora fortes e quentes, ressaltando apenas a silhueta dos cantores e dançarinos, ora leves e sutis, permitindo que as interpretações sobressaiam ao cenário e complementem as letras de cada canção apresentada.
As cenas foram gravadas em um enorme estúdio em Madri, que pode ser visto quase por inteiro na tomada final do filme, quando um delicado, porém grandioso plano-sequência de bastidores leva aos créditos finais.
Por trás de cada apresentação, uma tela é iluminada com foco único de cor, assim como imagens que remetem a um Portugal antigo ou contemporâneo são delicadamente projetadas.
Participações. Artistas renomados da música portuguesa como Carlos do Carmo, Mariza, Camané e Argentina Santos entrelaçam as canções e a cultura de Portugal com a da África, e sua cantora Lura, e com a do Brasil de Caetano Veloso, Chico Buarque e Toni Garrido. A mistura traz também um diálogo entre o fado e o flamenco, estilo musical que Saura já provou que adora.
Ver Caetano Veloso apresentando o canto choroso dos portugueses na música da grande fadista Amália Rodrigues é encantador, mesmo que fora de seu tom. O fado é algo que se sente, e Caetano não só o sentiu como o fez sentir por quem assiste. A sequência Casa de Fados, em que fadistas levantam um a um e completam canções é de transformar até o mais estrangeiro em português e de dar vontade de ir a Portugal correndo. E como não poderia faltar, a voz de Mariza 'chorando' "Ó Gente da Minha Terra" é quase um pedido para o espectador fechar os olhos e dirigir sozinho seu próprio filme. Mas não o faça! A sequência que cabe a essa canção vale a pena ser vista em cada segundo.
Filme. Fados não é documentário, não é um filme. Quem assiste procurando uma história vai se decepcionar. O longa é pura música, dança e choro. Fados é um filme-canção.

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