segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Os bons filmes ao cinema tornam

Ontem fui recuperar o cinema perdido em mim, e o fiz. Peguei um pacote tamanho GG de pipoca, um refrigerante bem gelado e sentei na mesma poltrona de costume: no canto esquerdo, ao lado da passarela, pouco acima da metade das fileiras. Apoiei os óculos 3D na ponta do nariz, acompanhei o apagar de cada luz e respirei fundo, sorrindo por dentro, praticamente me sentindo em casa.

Ao fundo a tela preta exibia alguns dizeres decorados por mim há décadas, mas algo mudou, em vermelho queimado as palavras diferenciaram o que era de costume e o sorriso estava novamente ali, em mim, meio bobo, revivendo uma sessão em família que aconteceu quando meu irmão e eu tínhamos sete anos. Ontem, a tela exibia a frase: “Uma exibição especial em 3D.”

O fundo voltou a ficar completamente escuro, sendo quebrado apenas por um nascer do sol esbanjando amarelo e alaranjado no horizonte. A trilha era “Ciclo sem fim”. Arrepiei. Ao meu lado (depois da passarela) um garoto de uns oito anos em sincronia com a voz do pai cantava a letra que marcou a minha infância com O Rei Leão.

Provavelmente eu poderia acabar esse post aqui e a maioria das pessoas entenderia completamente a sensação que tive ao ver esse clássico da década de 90 sendo novamente exibido nas telonas. Ainda hoje eu poderia recitar fala por fala do filme, cheia orgulho. Aliás, se eu já tivesse filhos poderia ser a mim encaixada ali, na descrição do garoto e o pai, cantando a trilha em uníssono e reunindo duas gerações no gosto por essa animação 2D que ultrapassa as décadas.

Impressionando até a Disney, o relançamento do longa (que foi feito para animar os fãs com a chegada do vídeo em 3D Blu-ray) desbancou o primeiro lugar nas bilheterias nos EUA, com uma arrecadação de US$ 29,3 milhões no último final de semana. Rei Leão marcou tanto uma época que, mesmo passados quase 20 anos, está ainda hoje entre as cinco maiores animações da história em bilheteria. E pelo jeito a Disney pretende converter outros grandes clássicos para o 3D e exibi-los nas grandes telas, imagine agora, depois dos ótimos números.

Eu já fiz minha listinha de grandes animações 2D que espero ver no cinema, tendo Dumbo como zerinho corta todos, já que os vôos e aterrissagens do elefante orelhudo seriam um espetáculo a parte. Na sequência, mas não essencialmente na ordem, espero Pinóquio, Bambi, Aladin, A Bela e a Fera, A Bela Adormecida, Cinderela, Peter Pan, A Dama e o Vagabundo, A Pequena Sereia (que também teria um efeito lindo em 3D) e até os mais novos, mas não pouco velhos, Tarzan e Mulan. A lista é tamanha que até acho que vou fazer uma sessão especial em casa, para me preparar.

Quem topa?

Hakuna Matata!


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Nas telonas: Super 8


Gosto por ficções científicas? -Check.
Vício por cinema? -Check.
Acha que a Dakota Fenning é uma atriz que não devia crescer? -Check.
Mania de acreditar em conspirações governamentais? -Check.
Fã de carteirinha do Spielberg? -Muito check!
Só viu o trailer do filme? Totally check.

Desarmada de informações e motivada pela tietagem por Steven Spielberg fui ao cinema conferir Super 8 com a melhor das intenções. Saí 2h depois procurando uma aventura perigosa com a qual pudesse me ocupar e que se concretizaria, no máximo, no caminho escuro e tenebroso do ponto de ônibus até a minha casa.

Super 8 se passa no final da década de 70 e tem como protagonistas seis garotos que testemunham a dramática colisão noturna de uma caminhonete com um trem de carga enquanto tentam gravar um curta sobre zumbis. Diversas ligações os levam a crer que a batida não foi um acidente, enquanto o exército tenta encobrir a verdade revelada no filme da câmera: a existência de outras formas de vida (para não dizer alienígenas, já que soa meio feijão com arroz).

Vou deixar o filme como dica aqui no blog porque o Spielberg é o dono do Rosebud original, então tem tudo a ver.

Mentira... E verdade.

Sinceramente a dica é porque o longa pode causar em vocês o mesmo efeito que causou em mim, um agradecimento pós-créditos. Super 8 é visivelmente uma produção cinéfila, um filme apaixonado por cinema e, claro, pelo produtor do próprio: Steven Spielberg. É praticamente uma homenagem.


Com momentos que lembram grandes clássicos de outras décadas como E.T., Os Goonies, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, e Conta Comigo (de Rob Reiner), o longa é uma montagem do que já foi feito de bom, só que de forma renovada. Eu, particularmente, acho mesmo que há muito tempo não produzem um filme tão bom com crianças e a atuação dos atores mirins é de deixar qualquer adulto comendo poeira. Foco na pequena Elle Fanning, a irmã mais nova da atriz Dakota Fenning e que, graças, ainda não cresceu!

Super 8 me fez ter vontade de voltar àquela época da infância que a gente não mede o perigo simplesmente porque não o consegue ver da forma que realmente é, e age como se tudo –por mais sério que seja- não passasse de brincadeira. O filme singra do drama para a ficção, para a comédia e para um amolecedor-de-corações romance infantil. E com tantos gêneros eu prefiro simplesmente classificá-lo como “nostálgico”, como muitas futuras produções poderiam ser: Releituras novas de grandes épocas do cinema.

Acredito que o diretor J.J. Abrams conseguiu não estragar a surpresa e, com três anos de segredos sobre o longa, alcançou a proposta de despreparar o espectador para que ele pudesse se divertir mais ao ir ao cinema desarmado de muitas informações. Eu não só aprovo como vou tentar adotar mais isso, essa permissão maior do filme poder alcançar quem o vê. Vale a pena.

Como cantaria Cyndi Lauper: It’s good enogh for me... yeah, yeah, yeah hooo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Qual a sua trilha sonora?


Vi a pouco que Eduardo Coutinho tem um novo projeto cinematográfico em vista e desde o momento que li a matéria me transformei em um ser completamente insuportável. Minha lista do msn virou uma seleção de jukebox alheio e acredito que serei bloqueada por justa causa -vulgo chaTici- por alguns usuários em 3... 2...1...

De qualquer forma estou lançando a pergunta: “Se eu te pedisse pra cantar uma música que marcou sua vida o que você cantaria?” Pelo messenger foi engraçado, eu li desde uma resposta clara e direta, entende-se por “nome da música –artista que canta”, reticências seguidas de um CD completo com uns 15 nomes distintos em gênero e estilo, tem gente que até agora não respondeu (acho que surtou) e recebi até um educado: "porr*! Me come o c* mas não me pergunta isso!”.

Ou então alguém pode simplesmente me perguntar: Por que você quer saber? Claro, essa é a pessoa do bloqueio... E no fundo ela está certa. Por que eu, reles mortal, tenho o direito de saber uma coisa tão pessoal? Na verdade eu não tenho, meu bem, eu só quero. Por fim, com minha busca online confirmei em alguns minutos que eu não sou Eduardo Coutinho, o cara que tem o poder de tirar as respostas do âmago das pessoas – lembrando que é tirar sem usar a força.

O que O cara dos ‘filmes de conversa’ (como ele mesmo classifica) vai fazer agora em seu novo projeto é exatamente o que eu tentei miseravelmente reproduzir: Pedir para as pessoas cantarem. A partir da alforria do gogó o cineasta pretende buscar a subjetividade da vida do indivíduo nessas canções. Segundo o Estadão.com.br, “Coutinho achou que pedir a um grupo de pessoas que cantasse uma canção de sua preferência seria um bom modo de fazer com que falassem melhor de si mesmas.

Achei a ideia fantástica e já comecei a desenvolver o proposto, mas não para fazer um filme, mas para conhecer melhor as pessoas que eu gosto e vê-las enlouquecendo, já que as reações se mostraram bem interessantes até o momento.

Então eu pergunto a você e gostaria de ter uma resposta, seja ela como for, em forma de versos, palavrões, de coletâneas completas ou de apenas um nome, sem necessidade de explicação. E pode ser por comentário, e-mail, msn, facebook, twitter, falecido Orkut, sinal de fumaça ou código morse, eu só quero uma resposta. Se é verdade que a vida tem trilha sonora, eu pergunto: Qual a sua?

Solte o cantor de karaokê que há em você.

Estou esperando o projeto de Coutinho, estou esperando a sua resposta.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Entre assuntos ‘distraíveis’ e a busca pelo amor recíproco infeliz


As pessoas costumam me dizer que eu possuo o dom de distrair meus próprios assuntos, de perder o foco e desviar a conversa para lugares que nem eu conseguiria explicar. Da mesma forma que minhas palavras são marcadas pela fuga da objetividade eu tenho, em algum lugar da minha memória, uma caixinha que guarda o assunto inicial para que ele não seja completamente perdido e possa ser retomado em algum momento da conversa. Retomar um assunto distraído costuma surpreender mais as pessoas do que o fato de distrair-se dele. Foco, Tici, foco. Ontem assisti Romance, um filme nacional de 2008 que conta com basicamente um elenco de monstros e um dos meus diretores preferidos, Guel Arraes. Após ver o filme, deitei na minha cama para dormir e comecei a enumerar em rascunho no celular assuntos distintos que não poderiam ser distraídos se eu fosse escrever sobre o filme. Aqui estou eu, tentando ser coerente com tanto a dizer.

Começo então pela paixão por filmes nacionais. Chega a ser ridículo o sorrisinho bobo que eu fico na boca quando vejo algo como Romance na minha tela, ou seja, serei suspeita até a última linha desse texto.

Quando eu era criança a reclamação habitual era o som do cinema nacional e, há pouco, ouvi uma amiga falar que hoje as pessoas reclamam dos roteiros, das histórias contadas. Então eu provoco quem quiser discutir comigo a encontrar uma história mais bem contada, encaixada e boa de ver que Romance. O filme mostra o quanto todos nós buscamos o amor, mas não aquele amor de final feliz, mas àquele construído pelos obstáculos, que dói e que não tem possibilidade de acontecer: o amor correspondido infeliz.

A partir do clássico que gerou todos os grandes romances da literatura -entre eles a possibilidade de ter sido a inspiração para Romeu e Julieta- Wagner Moura e Letícia Sabatella protagonizam a reconstrução de Tristão e Isolda sobre o palco para a história se tornar real fora dele. Construído com diálogos bem arquitetados que brincam com o texto rebuscado de peças teatrais em meio à história de amor do casal, Romance relembra em nós aquilo que quem um dia se apaixonou sabe: O quanto o amor é brega.

E ninguém esperava essa consideração, eu sei.

Na verdade o que eu ia escrever é o quanto o amor é finito, mas o descrito acima não deixa de ser verdade. Em Apenas O Fim, filme de Matheus Souza, o personagem Tom, de Gregório Duvivier diz uma frase que eu adoro quando sua namorada reclama que ‘falar de amor é tão clichê’. Ele responde: “Eu acho que falar que falar de amor é clichê é que é clichê.” A pergunta é, existe assunto tão batido quanto amor? E existe alguém, algum dia na vida, que não pense nele? É retórica. O interessante de Romance é a forma com que o filme declama e projeta a ideia de que só o amor impossível é amor, que nós amamos não o amor, mas a paixão e a instabilidade constante dela. Afinal, histórias de amor com final feliz só começaram a ser escritas a partir do século XII e até hoje nada é tão romântico e trágico quanto Romeu e Julieta. E, no fim, “todo amor é verdade e representação ao mesmo tempo”.

O diretor e um dos escritores do longa, Guel Arraes, de O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro, não me decepcionou novamente e vem fazendo no Brasil o que muita gente só enxerga em filmes internacionais, criando uma identidade. Seus filmes tem o seu DNA, é visível. Além de adorar o Marco Nanini, o que não é difícil, ele busca em suas produções assinar diálogos inteligentes, dinâmicos e montar cenários tipicamente brasileiros. Encenando a tríplice Cinema X Teatro X Televisão, ele consegue, em Romance, intercalar provocações e verdades quanto ao meio e, quando tudo parece que vai ficar só no eixo Rio-São Paulo ele nos leva ao Nordeste para as filmagens do Tristão e Isolda brasileiro, em que os trovadores e senhores feudais se tornam os músicos de cordel e coronéis e Tristão deve ser interpretado por um verdadeiro nordestino.

Vale lembrar que eu sempre fico encantada com os elencos de filmes nacionais que, se duvidar, muita gente nem sabe que estão na prateleira da locadora da rua de casa. Quando Hollywood resolveu refilmar 11 Homens e Um Segredo o burburinho foi geral porque era a produção com o maior número de estrelas da atualidade. Aqui, no Brasil, toda produção tem o peso artístico de, pelo menos, meia dúzia de monstros da atuação e nem por isso as pessoas fazem questão de ir ao cinema ou alugar o filme. Ter Wagner Moura, Letícia Sabatella, Andréa Beltrão, José Wilker e Marco Nanini projetados na mesma tela é algo que todo mundo, um dia, deveria poder ver. É Tony Ramos e Gloria Pires sendo muito maiores e menos creditados que um Sr. e Sra. Smith. É o que a gente tem de melhor se reunindo em uma coisa só e sempre é algo muito bom. O Brasil não é mestre das tecnologias de cinema, das produções que custam a arrecadação pública de uma cidade ou dos grandes números de bilheteria, mas filmes como os de Guel me fazem ter cada vez mais certeza de que uma coisa que fazemos e fazemos bem é contar uma boa história, ou protagonizar um bom Romance.

Minha enumeração não adiantou muito, os assuntos continuam se/me distraindo. Bom, paciência, um dia eu ainda chego lá.

Bom dia para quem é de bom dia e eu desejo a todos um final infeliz. Afinal, “os amores desgraçados costumam render belas histórias”.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Rio – O brasileiro para não brasileiros

Quando assisti ao primeiro A Era do Gelo saí do cinema com um sorriso de orelha a orelha e na boca aquele gosto de “quero mais”. A trilogia amadureceu, ganhou o mundo e um brasileiro entrou nessa onda se tornando uma espécie de orgulho da nação por conseguir atravessar a linha imaginária que impede a maioria dos nossos grandes de chegarem aonde ele chegou, Hollywood. Carlos Saldanha virou uma figurinha repetidamente acompanhada de perto por mim, não por fazer um bom trabalho (o que, é óbvio, o faz), mas por ter não só um pezinho no samba, mas também o coração.

Como qualquer bom brasileiro fui ao cinema ver Rio praticamente regada a preconceito, esperando uma história mal contada, um retrato pornochanchado e um samba americanizado de uma nota só. Até concordo com todas as críticas que li em que afirmavam que o filme era exatamente isso, mas mesmo assim fiquei um tanto quanto irritada pelas acusações e, por final, pensei: “Brasileiro não desiste nunca mesmo, nem de ser insuportavelmente chato.”

Pra quem não conhece a história ela é bem brasileiramente clichê. Blu, a última arara azul macho da sua espécie é extraviado em meio a um contrabando de animais silvestres e acaba se tornando animal de estimação de Linda, uma tímida nerd, bem nerd, de Minnesota. Ela conhece Tulio (que vale ressaltar que é dublado por Rodrigo Santoro em inglês, certo? Na verdade, na versão original e na em português) que a convence a levar seu bichinho ao Brasil para acasalar com a última fêmea da espécie e perpetuá-la. Durante a tentativa de apresentação das aves elas são capturadas por contrabandistas e é aí que começa a sequência de fugas pelo Rio de Janeiro para que Blu reencontre a sua dona.

Seguindo os clichês, tudo acontece durante a semana de carnaval e a sensação que o filme passa é que o país vive para a “maior festa do mundo” (o que não é bem uma mentira em se tratando de Brasil). Como não poderia faltar também, nosso segundo ícone, temos uma cena de perseguição em paralelo a uma partida de futebol entre Brasil e Argentina e somos repetidamente obrigados a ver um Merchant espetacular dos pontos turísticos do Rio de Janeiro. Clichê, pastiche, pastelão. E daí?

Há um tempo li uma crítica do Ruy Castro sobre musicais e ele comentava que o cara vai, vê um musical e sai do cinema reclamando que é ruim porque ninguém sairia cantando profissionalmente no meio da avenida Paulista sendo acompanhado por outros cantores que, por acaso, estavam passando por lá e se contagiaram, por passarinhos que assoviam no ritmo da melodia e mendigos que, no fundo, saíram da academia Bolshoi. Quanto a isso o escritor dá uma patada simples, mas certeira perguntando ironicamente a ele mesmo: “Por que tem que ser assim se na vida não o é? Porque é um musical, idiota.” Claro, não necessariamente nesses termos.

Acho que Rio está para os brasileiros como quem não gosta de musicais está para eles, é puro preconceito. Na verdade depois de ler as críticas à animação eu cheguei a conclusão de que não há preconceito tão grande com o Brasil como o do próprio brasileiro. É obvio que o filme ia explorar os pontos turísticos do país, é óbvio que ia abusar do samba, é óbvio que iria abraçar os clichês. Primeiro porque o nome do filme é Rio e não, sei lá, “Fuga das Araras”, o foco não é a história, é a cidade. E mesmo assim o resultado ficou gostoso de ver. Eu não sei se alguém esperava ver um Tropa de Elite animado, mas fora do país o sistema cinematográfico é diferente e, por mais que tenha sido dirigido por um brasileiro, Rio não é uma animação exclusiva para quem nasceu aqui e, portanto, precisa ser, além de retratista e bonitinho, comercial. Cá pra nós, Tropa de Elite é nosso, é fantástico, é um dos meus Top 10, mas algumas cenas podem ser encaixadas em diversas histórias de diversos países pelo mundo. Tente encaixar Rio, as cores, a trilha que foi de Samba ao Funk singrando até pela Bossa Nova, o Cristo, o Pão de Açucar a qualquer outra história e não vai dar pé. É uma animação de cá para estrangeiros, não o contrário. É turística. E devíamos ficar muito felizes por ninguém ter sido seqüestrado no morro ou termos sido refletidos nas curvas de uma mulata sambando nua. Nós só fomos animados. E de forma caricata, como toda animação deve ser.

Quem for ao cinema ver Rio sugiro que vá sem preconceitos e com um olhar externo, vá como foi ver Madagascar, por exemplo, viajando para onde você não conhece. Aliás, usei o exemplo do longa para abrir uma ressalva de que os macacos ladrões de Rio lembram exageradamente os pingüins da franquia da Dream Works, isso foi bem chato.

Rio é uma animação que vale a pena assistir porque é simplesmente fantástica e gostosa de ver e porque não é nacional e não é estrangeira, é um ponto de equilíbrio que nós também devíamos começar a ter.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Cinema com gosto de chocolate meio amargo


Observe um relógio em contagem regressiva. Sinta a impotência de ver o tempo se extinguir e deixe a delicada e cruel hora que não se estica, que não se retarda te fazer perder o fôlego lentamente, como um minuto que demora a passar, mas que nunca se estende mais do que o seu tempo. Assista em câmera lenta os segundos que precedem a bomba que explode e abrace o desespero de só poder ver esse tempo passar. No final o que resta a cada um é o destino de uma só sentença que não pode ser questionada, a morte.

Pois o dead line da vida é o assunto lento e angustiante de Não Me Abandone Jamais, filme do diretor Mark Romanek, baseado no romance homônimo de Kazuo Ishiguro, que tem Keira Knightley, Carey Mulligan e Andrew Garfield no elenco. O filme foi apresentado na Mostra Internacional de Cinema de Londres no ano passado e despertou amores e frustrações na platéia. Pudera. Não que eu seja fã de coisas estranhas, mas, no meu caso –mesmo que ele te faça encarar sorrindo a possibilidade de suicídio- despertou a primeira opção.

A trama gira em torno da história de vida, ou da meia-vida dos três protagonistas. Educados em um colégio interno rigoroso com o bem estar e a saúde de seus estudantes os três aceitam, sem alarde nenhum, o seu destino: nasceram para ser doadores de órgãos. Filme futurista, certo? Não. Na verdade eles serem apenas defuntos com órgãos utilizáveis é o de menos. Incomoda, mas o buraco é ainda mais embaixo, é social.

O triângulo amoroso dos personagens traz à tona o egoísmo do ser humano e, para reforçar o conceito, Kathy (Carey Mulligan) fecha o filme com a frase: “O que não sei ao certo é se nossas vidas foram tão diferentes das vidas das pessoas que salvamos”. Não Me Abandone Jamais, para mim, não é um drama que mistura romance e clonagem, ele tem algo mais. Faz a gente pensar no quanto cada um de nós é capaz de fazer ao outro para ser melhor, para parecer melhor ou apenas para sentir isso. Pode parecer piegas, mas a construção de cada diálogo e a lentidão entre uma fala e outra é como um tempo dado a nós para pensarmos na brutalidade, mesmo que sutil, da realidade de um povo que constrói novas tecnologias e busca respostas não pelo bem de todos, mas de si. Um por si e todos por um, não é esse o lema?

O filme faz refletir ainda sobre o quanto somos ligados a alguém, a alguma coisa e até ao que tentamos ser. Talvez seríamos pessoas melhores se, como no longa, aceitássemos que somos apenas humanos e que fazemos parte de um ciclo. Possivelmente não sofreríamos tanto com nossas perdas. Claro, é utopia hipócrita da minha parte, logo eu, que não me desfaço nem de cartinhas de colegial.

Fora o sentimento, o filme me remeteu a vários sucessos do gênero como A Ilha, Gattaca, Equilibrium e até A Fortaleza, sabe? Aquele clááássico ótimo em que o Christopher Lambert é enviado a uma prisão de segurança máxima. A idéia de ter a vida controlada por outras pessoas já foi muito abordada na Sétima Arte, mas o que há em comum em todos esses filmes é que os personagens lutam para ter o controle de suas vidas de volta, o que não acontece em Não me Abandone Jamais. Eles aceitam o destino de morrer para salvar um zé-alguém, mesmo que você, espectador, deseje uma reviravolta até os últimos minutos.

De qualquer forma, é impossível assistir a Não Me Abandone Jamais e, ao fim da projeção, não ter aquela sensação de “cadê meu chão?”. É como sentir vontade de comer chocolate e só ter uma barra de meio amargo. É doce e é o contrário. O filme não é fácil de digerir. Então sugiro que seja visto em um dia comum, sem grandes acontecimentos bons ou ruins e sem uma janela do 25º andar por perto (Vai que dá vontade!). E recomendo o longa porque é sutil, doce e mostra que algo pode valer a pena na sua vida só pelo simples fato de ter acontecido com você. Mais ou menos aquela coisinha clichê que diz que o tempo que as coisas duram não é importante e sim a intensidade. Ou bagunçando poetas eu diria “que seja eterno enquanto dure”, “posto que é chama”. Assim como a própria vida.

Não Me Abandone Jamais foi o vencedor do prêmio de Melhor Atriz (Mullingan) e indicado a Filme, Diretor, Roteiro, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante do British Independent Film Awards.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A representação do belo pelo feio na ponta do gatilho


Semana passada fui ao cinema despreparada, sem ter lido uma linha a respeito do que ia ver ou escutado uma crítica completa. Ouvi, sim, alguma coisa, mas ecoou na minha cabeça só um nome que parecia estar sendo repetido incessantemente, como se o filme fosse uma biografia: Johnny Depp. Para entrar no clima prefiro escrever que fui ao cinema na estréia de Rango, na sexta-feira, sem nem saber que era a estréia, só por ir, por um convite de última hora, e cometi um erro esquecendo de carregar comigo um acessório imprescindível para um bom faroeste, ou até obrigatório. Digamos que fui ver Rango infinitamente desarmada.

Para quem gosta de cinema ver um filme sem nem saber a trama é quase sinônimo de teoria do caos. Você sente como se estivesse caminhando no escuro, fica hiperativo, agoniado, roendo as unhas, fulo da vida e querendo que aquele sofrimento acabe logo para poder, no todo, entender as partes. E obviamente ler o cast. De qualquer forma, durante o longa eu só conseguia lembrar de uma ligação daquilo com a minha vida: as aulas de História da Arte que tive no primeiro ano de faculdade.

Nem bem na arte, mas na filosofia, Sócrates grifou em algum de seus escritos que “toda a beleza é difícil”. Seguindo nesse pensamento Platão afirmou que a beleza é determinada pela experiência de prazer suscitada pelas coisas belas. Lembro das aulas então, quando o professor escreveu no quadro a pergunta: “O que é belo?”. Bom, em meio a discussões que envolviam Gisele Bündchen e Michelangelo o ponto ao qual chegamos era exatamente acreditar que nem tudo que classificamos como bonito pode ser considerado belo e que o feio é tão idealizado quando o seu antônimo. Para finalizar as citações e retomar o Rango perdido, Giulio Carlo Argan, historiador e teórico da arte, escreveu que o feio é o belo decaído e degradado, mas isso não quer dizer, necessariamente, que tenha deixado de ser belo, acredito.

Do início ao fim de Rango eu me impressionei com o quanto eu achei tudo tão belo e mais feio ainda. A animação é simplesmente a melhor que eu já vi e deixo a dica para que as pessoas esperem sair do cinema e aluguem o blu-ray. Deve ser uma experiência única.

Os personagens são detalhadamente perfeitos em toda a sua construção e cheguei a me perguntar se os poucos humanos que aparecem não poderiam ser criados em live action. É humanamente impressionante. Depois de assistir, claro, fui me informar e achei interessante a idéia de que os dubladores fizeram as cenas caracterizados como personagens e em cenários montados, interpretando mesmo. Aí, enquanto Depp cedia sua voz inconfundível para o camaleão sem identidade os animadores assistiam essas gravações e reconstruíam as expressões dos donos das vozes nos personagens. O resultado é belo, é belo, é belíssimo! O camaleão é algo muito parecido com um Jack Sparrow verde.

Fora a beleza o filme é bem estranho.

A trama é simples e, na minha opinião, se fosse feita como um longa-metragem normal, diga-se com gente e não animado, teria o mesmo impacto. FORA A BELEZA. Nós estamos tão acostumados com animações bonitinhas repletas de personagens caricatos com olhos enormes naquele estilo japonês digno do carisma mundial que quando vemos algo diferente a expressão é de “ahn?”. O filme é feio, sabe? Feio mesmo. Os bichos são feios, as cores são feias, é tudo meio assustador. Mas o feio vai além. Depois de assistir Rango a gente sente falta da ausência de memória da Dory, das trapalhadas do panda Poh, da tagarelice do Burro e do Buzz em versão mexicana. Os personagens de Rango são tão perfeitos 'animadamente falando', tão bem feitos, que falta algo não só no camaleão, mas em todos eles que os deixa ainda mais feios historicamente, falta personalidade. Falta profundidade, ou aquilo que diferencia um de outro. A própria chamada de um dos cartazes do filme diz “Porque se disfarçar se você pode se destacar?” e quando pensamos em um camaleão é instantâneo imaginar algo como o pequeno Pascal de Enrolados se camuflando em tudo. Em Rango, o fato de ele ser um camaleão não o diferencia de uma iguana. Aliás, de um lagarto qualquer. Além disso, os personagens de faroeste são, por si só, tão caricatos que, na animação, todos eles acabaram por ter características iguais e como diz a moral de Os Incríveis: “quando todo mundo for super, ninguém vai ser.”

De qualquer forma Rango não é, nem de longe, um filme para crianças. A não ser que você esteja com uma vontade louca de acordar de madrugada com seu filho ao pé da cama dizendo que teve um pesadelo com uma cobra usando chapéu de cowboy. Mesmo as ligações que a animação faz com grandes filmes de faroeste e até com Indiana Jones podem não ser percebidas nem por adultos. Ou seja, é demais para gente grande e é pouco para gente pequena. Ganha pela trilha sonora do fantástico Hans Zimmer que fecha a parceria tripla pós-Piratas do Caribe com o diretor Gore Verbinski e seu pupilo ícone Jack Sparrow, Johnny Depp.

Por fim, Rango acaba por ser a arma de uma bala só que atira sem alvo, que perde o rumo do conteúdo. Mas é belo, belo, belíssimo.