sábado, 18 de dezembro de 2010

Um capítulo para não ser esquecido: "Claquete - Cinema do Argumento à Estreia"

FADE OUT

Do argumento à estreia, um objetivo singular: encontrar o público.

O cinema brasileiro, sempre rico em identidade e original em ideias conquista espaço na vida dos brasileiros aos poucos. Diferente do mundo do instante Hollywoodiano, que tem cerca de 9 estreias semanais, no Brasil a busca incessante é pela viabilidade financeira e pelo seu público.

A sétima arte nacional hoje depende das leis de incentivo e é por elas que ela existe. Mas depende também da força de vontade de pessoas que doam o melhor de si em busca de, com baixos orçamentos – comparados aos blockbusters do alto escalão – atingir grandes públicos e tornar real o que é eterno, a história. São centenas de profissionais que dedicam anos em pré, produção e pós para que uma obra seja concluída e que possa ter seu real começo: a plateia.


Na dramaturgia o cinema interpreta o papel perene, aquele que guarda e revela ao mesmo tempo e para sempre a história idealizada, filmada e narrada. No Brasil, o cinema que conquistou plateias com histórias de um caipira jeca e sobreviveu à falta de dinheiro, incentivo e público com as risadas de um quarteto inesquecível, Os Trapalhões, hoje gera filas em algumas estreias memoráveis e cadeiras disputadas.

Temos um cinema que exibe na comédia sua prosa e no drama social sua poesia. Que luta para alcançar seu público, ao passo que muitas vezes critica filmes de sucesso. A sua identidade é notória para os olhos do mundo e, muitas vezes, incompreendida pelos nossos.

Para nós falado em português e para os estrangeiros falado em brasileiro, nossa Sétima Arte é composta por uma aquarela de obras-primas desconhecidas e raras nas salas de cinema como OLHO DE BOI, de Hermano Penna, A MÁQUINA, de João Falcão, ou DURVAL DISCOS, de Anna Muylaert. Mas ainda sim obras que conquistam estrangeiros que falam todas as línguas do mundo, que assistem aos filmes dublados, com legendas, não importa.

No compasso das boas ideias os profissionais carregam consigo o ardor de sonhar o impensável e realizar o inconcebível para muitos: convencer que milhões gastos com cinema são bilhões ganhos em formação humana de uma sociedade. A nossa.

Frente ao ‘estrelismo’ de poucos, surge a sensibilidade humana de muitos que falam de seu trabalho com seriedade e naturalidade e buscam cuidar daquilo que necessitam e que, perceptivelmente, amam: seu ofício, sua arte.


As luzes ainda não se acenderam, mas o filme já terminou. Minutos de melancolia que pedem mais uma lágrima, mais um sorriso, mais uma gargalhada ou um respirar fundo para conseguir raciocinar melhor. Mais uma surpresa, uma emoção. Ao entrarmos em um cinema o resto do mundo para, os problemas cessam e nos permitimos embarcar em uma nova realidade, não tão real, mas muito mais próxima de nós que do resto do mundo.

A emoção de ler FIM na gigante tela, ao invés de THE END é quase sufocada por luzes que se acendem e nos convidam discreta, porém duramente, a deixarmos a sala que em nossas memórias ainda possui aquele carpete escuro, poltronas vermelhas e cheiro de pipoca. Somos então a pequena plateia que carrega um agradecimento singelo a cada um daqueles nomes que surgem na tela com fundo preto e que auxiliaram, de algum modo, a contar aquela história.

São mais de 100 anos de Sétima Arte que ainda fazem a magia do cinema ser algo inexplicável, que não agrada apenas aos olhos, mas a mente, ao coração. É também uma arte de moldar sentimentos e construir vidas artesanalmente, montadas com alicerces de sonhos tão próximos da realidade que chegam a confundir.

A nós, espectadores, resta a luz que indica a porta de saída e aquela vontade de novamente ouvir as vozes, ruídos, notas musicais. Ver as cores, as luzes, as roupas, os sorrisos transformando uma sequência de minutos em uma sequência de suspiros.

De nós, cinéfilas, jornalistas e plateia, uma salva de palmas a todos os profissionais, genuinamente brasileiros – ou mesmo adotados por nós – que colaboram para fazer de uma grande história um filme e de um sonho um livro. Ou vice-versa.


O texto acima foi extraído do livro-reportagem “Claquete – Cinema do Argumento à Estreia”, produzido em 2009 como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo pela minha sempre parceira Marianna D’Amore e eu. O capítulo em questão encerra o conteúdo do livro.

Conheçam outros textos da D'Amore em http://brazilianfilmfestival.com/blog/
Quem quiser ler o Claquete, entre em contato com uma de nós.




sábado, 20 de novembro de 2010

Harry Potter e a geração que não gostava de ler


Há dez anos foi lançado no Brasil um livro que muitos não gostam, muitos criticam, alguns não entendem e uma legião aclama. Há dez anos eu tinha 13 de idade e, na época, já era uma leitora assídua de boas histórias. Mas eu não era o senso comum, talvez nem a exceção, não sei me classificar. Hoje, para descrever meus pensamentos voltarei aos 13 anos do meu irmão gêmeo, só assim posso falar (sem querer generalizar) de uma geração inteira. Enquanto eu cresci em meio a gibis da Turma da Mônica e histórias fantasiosas ele gostava mesmo era de destruir coisas. Na verdade, desmontar e remontar para conhecer, mas lembro que ele nunca conseguia remontar e os eletrodomésticos, carrinhos de controle e bugigangas eletrônicas se tornavam algo muito parecido com lixo. Era lindo, mas devastador. Lembro de um dia em que minha mãe quase teve um ataque quando o encontrou no chão da cozinha, desmontando um ventilador. Normal? Claro, se não estivesse ligado na tomada enquanto o fazia.

Meu irmão é um exemplo perfeito de como eu classificaria a Geração Y, a dele, consequentemente a minha. Ligado no 220 e com todas as 'conecções' existentes em modo online, eu tenho a impressão que o cérebro dele raciocina tão rápido que o corpo não acompanha. Vai atrás do que quer e consegue. É criativo, é inovador. Ainda guarda aquela facilidade de trabalhar em equipe que vem de outras gerações e se perde nesses tempos, mas se vira maravilhosamente bem sozinho. Cresceu jogando bola, vendo o VHS passar para o DVD e a fita para o CD. Brincando na rua, construindo cabanas, subindo em árvores. Vídeo game? Teve. Um Super Nintendo de soprar cartuchos que até hoje tem uns joguinhos que eu adoro.

Meu irmão cresceu em uma geração que não via muita graça na literatura que a escola mandava ler e que quando questionado dizia: “Não, eu não gosto de ler”. E lá estava ele de volta as árvores e eletrodomésticos ligados nas tomadas.

Foi com 15 anos que me apresentaram a história do bruxo londrino da autora inglesa J. K. Rowling e quando eu passei o livro para frente, para o meu irmão, uma coisa que eu nunca tinha visto aconteceu e foi devastador tanto quanto com os eletroeletrônicos. As 264 páginas foram devoradas em menos de dois dias.

Parecia ser um acontecimento único e que tinha parado por ali, mas o que havia naquelas páginas de Harry Potter e a Pedra Filosofal criou nele um hábito, e o meu irmão que nunca ligou muito para a palavra escrita sem figuras adquiriu o gosto pela leitura. “Mas é só ficção”, alguns diriam. Eu prefiro chamar apenas de literatura, que ensina a escrever assim como fazem os grandes clássicos que ele não queria ler na escola.

Na semana passada estreou mundialmente nas telonas a primeira parte do fim do que despertou o gosto de ler em uma geração. Harry Potter e as Relíquias da Morte parte I arrecadou mais de $100 milhões em apenas dois dias de exibição nos Estados Unidos e, mesmo ainda não tendo muitos números divulgados, no Brasil eu sei que não será diferente. Mas eu não vim falar sobre o filme, o Google está aí para isso. Eu resolvi escrever hoje para levar ao conhecimento de algumas pessoas -que não enxergam- a importância desse romance para mim, para o meu irmão e para a geração Y.

Harry Potter é muito mais do que uma história fantasiosa de magia, vassouras que voam, elfos domésticos e bem contra o mal. Ele, o livro, é um marco da descoberta pessoal de diversas crianças/adolescentes (muitos hoje já adultos) desse gosto pela leitura, pelo ritual de ler, de sentar em um sofá ou deitar de bruços em uma cama confortável com a luminária acesa, abrir um livro e deixar que a imaginação recrie o que nele vem em forma de palavras. E acreditem, o ritual não é enjoativo. A posição cansa, precisa de alteração constante, mas a leitura segue horas a fio, madrugadas a fio até os dias de hoje.

Nesse novo filme, o penúltimo, baseado na primeira parte do sétimo e último livro da série, não é mais a história que prende minha atenção como mágica, como quando eu vi o primeiro filme em 2001. É algo que, visto daqui para frente, alugando ou comprando todos os filmes de uma vez, será perdido. É o tempo. Como se tudo ‘magicamente’ tivesse crescido. A geração que aprendeu a gostar de ler com Harry Potter acompanhou arduamente ano por ano o lançamento de cada livro, de cada filme e, assim como os personagens neles registrados também cresceu e cresceu com fome de leitura.

Pensando nisso perguntei para a minha mãe sobre a geração dela, a “X”, que acompanhou os festivais de MPB e é conhecida por trabalhar muito, pela racionalidade, por agir em equipe e pensar em família. Sem querer generalizar ela pensou, pensou, e me disse: “Acho que a maioria da minha geração não gosta de ler”.

Agora já se fala de uma nova era, a do Mc Donnald, do Wii, do Playstation, da TV interativa, da internet móvel. Meus pais cresceram lendo a ficção nos gibis, que meu irmão e eu pudemos acompanhar adaptadas para os cinemas enquanto líamos as histórias de bruxos cheios de princípios. .A nova geração, que brinco ser a geração do instante, já vai pegar tudo mastigado, desde as grandes informações mundiais até o velho Harry Potter crescido e comprimido em algumas horas em sua televisão que nem é mais LCD. Eu, na verdade, tenho o maior orgulho de fazer parte da geração que acompanhou tudo isso, que aprendeu a gostar de ler e que –acredito que não seja coincidência– é conhecida por sua criatividade. Eu só espero, sinceramente, que surjam novos Harry Potters, que possam aguçar a vontade de abrir um livro e deixar passar o tempo que hoje não se tem mais.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Religião, política, futebol E cinema não se discutem.

Ok, ok. Vamos começar tirando a teia de aranha do trenó do Cidadão Kane. Essa semana inventei uma válvula de escape e vi todos os filmes que estavam passando no cinema dessa grande cidade do interior do MS e pequena em relação as menores de São Paulo. Pasmem. Eram numerosos trêêês longas em exibição e, como se em algum lugar alguém ouvisse minhas preces, havia UM legendado.

Mas hoje não estou aqui para falar exatamente dos três, mas de situações que geram discussões, que geram opiniões contrárias, que geram críticas. Essa semana duas coisas me chamaram a atenção no mundo cinematográfico nacional, uma foi a indicação do longa Lula O Don... Ops, o Filho do Brasil pelo Ministério da Cultura como representante brasileiro candidato a uma vaga no Oscar e a outra girou em torno da produção e críticas da adaptação do livro do espírita Chico Xavier, Nosso Lar.
Brincadeiras à parte, Nosso Lar me encantou do início ao fim. Eu já havia gostado do filme Chico Xavier, mas admito que tinha receio do que podia ser Nosso Lar por causa das reconstruções, dos efeitos digitais e do uso do Chroma Key. Depois de ir ao cinema e encarar o desconhecido, vejo a experiência como um passo do Brasil para o futuro e fiquei muito orgulhosa do conjunto da obra. Primeiro porque estamos investindo em nós. Por mais que a trilha sonora e os efeitos digitais tenham sido criados por estrangeiros, vejo Nosso Lar como um ponta pé inicial, um teste, um aprendizado que, na minha opinião, está dando certo. Já aviso que vou repelir quem vier discutir comigo que Transformers é mais bem feito que Nosso Lar. Pudera, são 123 milhões de dólares A MAIS em produção. Isso não é discutível, nem comparável. O que vim dizer é que o longa teve o maior orçamento da história do cinema nacional até agora, R$20 milhões, deixando para trás a história do nosso quase ex-presidente, em que foi utilizado cerca de R$15 milhões. E o que isso quer dizer? Que está valendo a pena investir mais em cinema, que o brasileiro está vendo filmes nacionais.
Claro que estamos falando de um público que entra na classe das coisas indiscutíveis, a religião e os espíritas. Mas eu, que não me considero de uma única religião recomendo o longa a quem gosta de um bom filme. Ressalto a cena do Holocausto, achei fantástica. A trilha e a maneira como foi montada me emocionaram e em momento algum vi como falta de respeito a entrada no Nosso Lar das vítimas que carregavam como símbolo a estrela de Davi. Na verdade imaginei bem o contrário e, sinceramente, exatamente o que eu sempre acreditei, que existe apenas uma religião com diversas crenças, mas que, no fim, nos encontraremos no mesmo lugar, sejam Católicos, Protestantes, Espíritas, Budistas, Judeus, etc...
Enquanto eu buscava, após a sessão de Nosso Lar que assisti, o orçamento e críticas do filme para conhecer outras opiniões, percebi que havia um novo rebuliço no cenário de notícias sobre a Sétima Arte nacional. Cineastas criticavam, jurados defendiam e o Brasil ficava sabendo que Lula, O Filho do Brasil foi o filme escolhido para tentar concorrer ao Oscar.
Me desculpem os adeptos, mas antes de criticar penso que um filme, para ser escolhido para representar um país pode, inicialmente, ser escolhido pelo povo. O que não foi bem o que aconteceu. Para quem lembra, em janeiro desse ano, depois de meses de propaganda (quase apelativa, quase política), o longa não teve a repercussão imaginada e até mesmo o triste acidente do diretor Fábio Barreto chamou bem mais atenção no tapete vermelho. Eu vejo sim a grande figura internacional de Lula como um ponto positivo em tudo isso, como disse Fernando Meirelles em entrevista, é um rosto conhecido internacionalmente e isso é importante. Mas tivemos, nesse ano, tantos filmes bons que poderiam representar o país que não acredito que tenha sido a escolha certa. Uma sugestão? Suprema Felicidade, que traz novamente ao cinema Arnaldo Jabor depois de 20 anos sem dirigir. O filme está chegando aos cinemas agora, mas tem um trabalho e história fantásticos. Temos tantas montagens mais simples e igualmente belas nas telas (e sem apelo) que me pergunto se precisávamos mesmo que fosse a tentativa frustrada de um novo Dois Filhos de Francisco que deveria nos representar?
Conheço bem a frase que diz que religião e política não se discutem, mas o progresso que vejo no cinema nacional após Nosso Lar e o retrocesso que sinto com o Lula, o Filho do Brasil nos representando me fazem pensar que a política exercida de forma errada no nosso país pode estar alcançando o cinema, e perguntar “será que mandando nele também?”. É só algo que me incomodou. Mas eu espero sinceramente que não e que, como água e óleo não misturem política e cinema para que a nossa Sétima Arte não perca o que faz dela brasileira, a personalidade.



Ah, e o futebol nisso? Bom, hoje é quarta-feira, dia de jogo na TV e quem quiser procurar nos cinemas está passando Bróder, uma produção nacional com aquele jeitinho brasileiro que mistura a realidade das favelas, Copa do Mundo e amizade. Claro que não vai passar aqui, portanto, espero as críticas de vocês.

domingo, 6 de junho de 2010

Mais que apenas um filme na prateleira


Ano passado, mais ou menos nessa época, eu estava no Rio de Janeiro (“andando em Copacabana, assim, com jeito de fim de semana...”) assistindo ao Mulher Invisível no Cine Odeon, lá na Cinelândia, e me encantando com as poltronas vermelhas, o saguão com azulejo xadrez, a cara de cinema antigo misturando o retrô, o cult e o pop. O Isaac, administrador do local, falava incessantemente sobre uma pré-estréia que iria acontecer na outra semana e que seria feita no local, o filme era Apenas o Fim.

Naqueles mesmos quatro dias cariocas eu e minha parceira de TCC conversamos com a coordenadora de marketing da Downtown Filmes, Cristiana Cunha, que falou muito sobre um projeto de um estudante de cinema da Puc Rio que foi abraçado pela produtora da Mariza Leão. O nome? Apenas o Fim. Essa semana eu achei o filme para comprar e já é a quarta vez que eu estou assistindo. Até decorei uma fala aqui, outra ali.

A história é simples e se baseia no fim do namoro dos dois protagonistas, interpretados por Érika Mader e Gregório Duvivier, e o filme todo gira em torno dos diálogos, ou seja, para quem é viciado em boas conversas cinematográficas como eu é fantástico! É triste, é normal, é inocente, é humano, sabe? Uma história de amor ao alcance. Ela resolve fugir e tem exatamente 1h para ficar com ele antes de ir e nesse tempo todo eles relembram, lavam roupa suja, encontram pessoas, blá blá blá. Só a cena do Marcelo Adnet eu achei estranha, mas passa.

Para um cidadão que viveu a infância e adolescência na década de 90 o filme retoma vários ícones da época, desde pokémon, Corrida Maluca, backstreet boys, Mario Bros, Vovó Mafalda, Bozo à Cavaleiros do Zodíaco e é fácil se identificar com os personagens o tempo todo, é tudo tão natural que parece que foi feito pelo seu vizinho que cresceu com você e fez o roteiro baseado na infância de vocês.

Bom, eu sou suspeita para falar sobre cinema nacional, mas fico cada vez mais feliz em ver filmes como esse, que não têm necessidade de ser polêmicos como um Cidade de Deus e um Tropa de Elite, que também não precisam estar em um patamar cult nacional daquelas produções sem pé nem cabeça e muito menos sem um final plausível. É apenas um filme de dia-a-dia, de convivência, daqueles que você assiste a qualquer momento, só por gostar. É um filme autobiográfico meu, seu, de quem quiser pegar para si.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O Mundo Imaginário de Terry Gilliam

Sempre fui fissurada por contos de fadas e finais felizes. Ponto. Em 2005, por isso e pelo livro que leva o nome dos dois e que guardo como relíquia em casa desde 1997, quando, ainda criança escrevi: “Favor não estragar esse livro, ele é muito importante para mim”, resolvi ir ao cinema e assistir ao Os Irmãos Grimm de Terry Gilliam. Lembro que ainda estávamos na década passada do Cine Ouro Branco, quando as poltronas já não eram mais conservadoras e o som já beirava o 5.1. A sala estava vazia e eu fiquei dias pensando naquele filme, nos elementos que o ligavam às histórias de Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Bela Adormecida, A Princesa e o Sapo, João e Maria, blá blá blá.

Há mais de um ano, passando pela sessão R$12,99 da Americanas eu agarrei um 12 Macacos, também de Terry Gilliam, e simplesmente adorei. Mas fiquei com aquela história toda de teoria do caos como uma pulga atrás da orelha, pensando como o mesmo diretor assinou produções tão diferentes.

Aí, quando vi uma chamada de O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus e, posteriormente, acompanhei as indicações ao Oscar, não parei quieta enquanto não assisti ao filme e... Ah... Que Terry Gilliam não é lá um diretor muito normal todo mundo sabe, que ele adora um tipo nonsense também. Mas eu posso estar sendo adiantada nas minhas conclusões, achei que a produção deixou a desejar.

Antes de qualquer coisa vou corrigir o comentário, a produção não deixoooou a desejar, aliás, ela foi fantástica. O filme é muito bem produzido, os efeitos são perfeitos e, se assistido no cinema deve, sim, pegar uns queixos caídos na platéia. Mas o roteiro me deixou com cara de paisagem.

Vamos parar para pensar... O que você espera de um filme que mistura o diabo, um contador de histórias, teatro, um mundo imaginário, um homem que aparece pendurado pelo pescoço e uma aposta por algumas almas? No mínimo algumas bizarrices e uma explicação boa no final, ou um final bom. Ao contrário do azar que Terry Gilliam tem, que já virou tabu e que chegou ao clímax em O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus com a morte do ator Heath Ledger no meio das filmagens, acredito que (infelizmente) o que deu certo no filme foi a morte de Ledger. Homenageado pelos amigos Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel, o ator foi substituído por eles nas cenas em que estava dentro do espelho, dando ao seu personagem a cara de alguém sem cara, cara de pau, duas caras, sei lá.

O filme me fez mais uma vez pensar no 3D e nos efeitos especiais, além de fazer eu me perguntar se no futuro teremos bons roteiros ou apenas bons efeitos. Eu posso estar sendo conservadora, mas fico com os roteiros, com os diálogos que surpreendem, com as histórias que nos enlaçam e com os momentos que nos passam a perna e nos fazem pensar: "Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer". O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus não é o primeiro a me fazer pensar nisso e acredito que não será o último.

Há uma cena no filme em que Parnassus (Christopher Plummer) e o diabo conhecido como Nick (Tom Waits) falam sobre o fim das boas histórias, das histórias bem contadas, que fazem a imaginação parecer real. Os dois discutem o início de uma era tão racional que ninguém mais vai ter tempo para sonhar ou acreditar em um conto bem contado. Essa cena, para mim, coube perfeitamente na ideia que tenho tido do cinema atual. Será que um dia os efeitos serão tão fantásticos que as coisas simplesmente vão estar visíveis para todos de forma unilateral e tão clara que não precisaremos mais sentir, ouvir ou imaginar? Eu, sinceramente, espero que não.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Noticiando a Sétima arte

Como ando sem tempo e deixando alguns leitores na mão, de tantos em tantos vou postar algumas coisas sobre a Sétima Arte, mostrar que não morri, certo? I'll be back.

Inácio Araújo pergunta: "O 3D vai durar?"

"Saí do "Alice" ontem pensando se realmente o 3D vai emplacar.
Ou antes: vai emplacar em espetáculos infantis ou semi-infantis, animações, coisas assim. Isso é certo. Mas para o restante será que se aguenta?
Primeiro, acho uma chatice colocar aqueles óculos incômodos para ver o filme.
Segundo, a mim pelo menos, o processo cansa a vista. No "Avatar" senti isso claramente. No "Alice", menos, mas o filme é bem mais curto.
Terceiro, fiquei com a impressão de que as virtudes do "Alice" independem do 3D, enquanto uma parte considerável de seus problemas vem de lá.
É como se houvesse toda uma adaptação para que os efeitos funcionem melhor."
[...]

http://inacio-a.blog.uol.com.br/arch2010-05-09_2010-05-15.html#2010_05-10_13_06_50-135949845-0



Já Ana Maria Bahiana rebate e "des-rebate" o 3D


"O 3D veio mesmo para ficar- por um algum tempo, pelo menos. O Hobbit – que começa a ser filmado em junho na Nova Zelândia- será 3D. Numa entrevista recente, Steven Spielberg me disse que está convencido da importância do 3D como “uma ferramenta a mais” para o realizador. Mas ele acha que a coisa não vai parar aí: “A verdadeira mudança será a experiência completamente imersiva e interativa, obtida através de capacetes de realidade virtual.” Ele parou um pouco para pensar e depois acrescentou: “Fica dificil comer pipoca com esses capacetes. E infelizmente vai ser muito individual e isolante, vamos perder o senso de comunidade dos cinemas.” Também acho…. (e vocês?)"

http://anamariabahiana.blog.uol.com.br/

O Cineasta das platéias mais perto de nós?


Os filmes da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, considerado o primeiro estúdio de cinema profissional no Brasil, podem agora ser assistidos gratuitamente na internet. Quem disponibiliza o importante e histórico acervo é a Elo Company, empresa especializada em mídias digitais e distribuição de conteúdo audiovisual, fazendo uma importante contribuição não apenas aos fãs do cinema, como ao patrimônio histórico e cultural do país.[...]

http://www.omelete.com.br/cinema/acervo-da-vera-cruz-pode-ser-assistido-gratuitamente-na-internet/


E como não poderia deixar de comentar, sobre Vera Cruz e Mazzaroppi talvez D'Amore possa comentar, eu só espero que a possibilidade do Brasil se aproximar da história do seu cinema possa nos ajudar a valorizá-lo. E o 3D é o 3D, já Alice não é grande coisa. Há um tempo, dois anos mais ou menos, escrevi um artigo chamado "Pela não banalização da pipoca", agora estou pensando em escrever "Pela não banalização do 3D", já já vai virar carne de vaca. (Espero que até lá o cinema de Dourados tenha aderido a ele, pelo menos)

Ainda no giro pelas telonas várias coisas por aí, A Hora do Pesadelo (fui procurar o primeiro filme, de 1984 para alugar, não tinha ¬¬. Penso que os remakes servem apenas para dar um empurrãozinho nas produtoras para que passem o original para DVD, estou no aguardo), Homem de Ferro II (O I é melhor, os diálogos do II continuam bons, mas faltou ação), Almodovar vai dirigir Antonio Bandeiras, o próximo filme do Batman está no forno, Transformers, Missão Impssível IV. Agora eu pergunto, tem algum novo filme sendo feito? Estamos na era das sequências. Para finalizar, a minha sugestão é Chico Xavier, que tirando um chroma key zoado na cena da cachoeira, é fantástico. E para quem gosta de monstros destruidores de cidades (fico imaginando o Stitch gritando "Raaaaurr" e empurrando prédios de brinquedo), vem aí um novo Gódzila, que emoção, hãn. Aí sim, fomos surpreendidos novamente.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Terror com pitada de comédia, ou vice-versa - Zombieland


Comedores de cérebros, perseguidores incontroláveis, defuntos condicionados, zumbis. Desde pequena (com minhas ‘medrosisses’ à parte) nunca gostei da raça dos morto-vivos, mesmo aqueles que hoje eu acharia engraçados e que apareciam em A Volta Dos Mortos-Vivos (Dan O´Bannon) clamando por cérebro, mordendo cabeças e, consequentemente, produzindo um som de mordida não muito diferente de um sapato achatando uma barata. Algo como “Plac”. No entanto, fui surpreendida com um início de 2010 cheio de comentários sobre uma produção do gênero terror, incrementado pela comédia - ou vice-versa - e recheado de cadáveres sedentos por carne...viva.

Zombieland realmente me apanhou desarmada quando fui assisti-lo e, não ser pego assim, segundo o filme, é uma das regras fundamentais para a sobrevivência quando a grande maioria dos seus vizinhos, no lugar de um amistoso ‘bom dia’, vão tentar te comer. O filme não pode ser considerado algo mais que um passatempo, devo alertá-los, mas mesmo sem um enredo bem definido com início, meio e fim, acredito que há anos eu não via um longa de humor negro tão inocente, tão divertido e tão bem feito. Possivelmente o filme Todo Mundo Quase Morto (Edgar Wright ), de 2004, é o mais próximo.

Que o diretor George A. Romero iniciou a Sétima Arte na ‘zumbilândia’ com seu A Noite dos Mortos Vivos todo mundo sabe. Mas tente assistir ao filme de 1968 com um olhar contemporâneo e, no mínimo, você vai se perguntar onde começa e termina a história no meio daqueles defuntos ambulantes e dos personagens que simplesmente surgem. Foi me fazendo lembrar disso que os roteiristas de Zombieland (Rhett Reese e Paul Wernick) e o diretor iniciante (Ruben Fleischer) começaram a chamar a minha atenção, ali, naquele ponto em que eu senti falta de uma trama propriamente dita. Ao ver o filme é bem possível imaginar que alguém teve uma idéia relacionada à meia dúzia de pessoas que sobreviveram a uma epidemia que transformou todos os seres humanos em mortos vivos e a partir daí... Bom, a partir daí o diretor disse: “Vamos filmar assim e ver o que vai acontecer.” Foi mais ou menos essa a minha sensação.

É ao som de Metallica - “For Whom The Bell Tolls” que Columbus, (Jesse Eisenberg) um típico adolescente nerd, abre as primeiras cenas do longa narrando as regras –que criou- para sobreviver em uma cidade em que o único ser humano não afetado pela praga dos mortos vivos possivelmente seja ele. Condicionamento físico, atirar duas vezes, não esquecer o cinto de segurança e não bancar o herói fazem parte de suas anotações, que citam superficialmente o principal motivo de sua sobrevivência, ou o seu modo de vida, o isolamento.

Ao sair à procura de seus pais, que vivem na cidade de Columbus, o adolescente se torna companheiro de viagem de Tallahassee (Woody Harrelson), um homem que equilibra a covardia do garoto ao seu gênio explosivo, durão e principalmente sem um pingo de sanidade. É engraçado como Woody Harrelson está ficando marcado por seus personagens carismáticos, fortões e bobos. Desde Mera Coincidência (Barry Levinson) não consigo vê-lo de outra forma. Acho que impagável seria a palavra, ele fica ótimo no papel.

É na contínua tentativa de sobreviver que os personagens acabam encontrando as irmãs Wichita e Little Rock (Emma Stone e Abigail Breslin), que sem dúvida estão mais preparadas que eles para encarar os mortos vivos. Aliás, fiquei assustada ao ver o quanto Abigail Breslin, a eterna e que deveria ser pequena Miss Sunshine cresceu em apenas três anos. Em Zombieland ela não é apenas uma garotinha fofa de doze anos, ela é uma garotinha fofa de doze anos que carrega uma arma e não hesita em puxar o gatilho.

O interessante do filme é que quanto mais humanos aparecem, menos ‘zumbilesco’ ele fica, fazendo até você esquecer o tema em alguns momentos e apenas se divertir com as presepadas dos quatro personagens. E acredito que o diretor também acertou nesse ponto, em mostrar que quando não há outra opção é preciso seguir em frente da melhor maneira, fazendo comédia. De qualquer jeito, o espectador não critica a trama maluca porque, sem dúvida, está se divertindo demais para isso.

É a dicotomia dos personagens que faz cada diálogo bobo, engraçado. O anfitrião infantil e obcecado por bolinhos, a garotinha madura e segura, o garoto medroso, regrado e cheio de cautelas e a adolescente golpista e fria (destoando o par nerd), munidos pelo humor negro adotado na forma com que eles exterminam os zumbis –no caso de Harrelson principalmente–, como se fossem sacos de batata ambulantes e não pessoas. Para dar o toque final, as falas são repletas de analogias ao mundo pop atual - a atriz e cantora Hanna Montana, por exemplo -, o que não tira a graça de uma frase idiota retirada de algum filme que não seja lançamento, como quando Harrelson vai se despedir de Eisenberg e diz algo como “Vai lá, porco.” que, para quem não lembra, é a frase dita pelo fazendeiro Hoggett para seu porquinho pastor em Babe, O Porquinho Atrapalhado (George Miller).

Durante as filmagens os atores abusaram de improvisações e, por isso, adicionaram diversas falas aos seus personagens, o que pode ter sido o motivo do tom informal da produção. Mas nada se compara a surpresa que foi guardada a sete chaves até o dia do lançamento e que, se você não gostar de spoilers, pare de ler por aqui. A participação especial do ator Bill MurrAy interpretando ele mesmo deixa o espectador desacreditado, se questionando de que modo aquilo foi possível, de onde eles o tiraram e o porquê. Eu diria que quando você acha que eles não podem mais inventar algo completamente insano eles conseguem passar desse patamar e fazer uma homenagem ao ator em seus... Sei lá... Sete minutos de aparição, com direito a trilha sonora e sátiras de Os Caça-Fantasmas (Ivan Reitman) e da própria carreira de MurrAy. Não se assuste se a cena terminar e você se pegar rindo com cara de interrogação. Aliás, acredito que, para MurrAy, o filme foi uma ótima sacada para chamar atenção para que vem por aí, Os Caça-Fantasmas 3.

No mais, o filme é realmente uma boa pedida para esse início de ano e só tem um probleminha, você não espera que ele termine e, quando acontece, fica aguardando uma possível continuação. Mas, como é preciso se contentar com os 80 minutos da produção e repetindo o que diz Tallahassee várias vezes no decorrer do longa, aproveite as pequenas coisas, pois é a união delas que faz de Zombieland um bom filme.

Ah! Não esqueçam de esperar os créditos finais. Há também uma pequena coisa ali.

"É hora de enloquecer ou emudecer!" - Tallahassee