quinta-feira, 13 de junho de 2013

O hangover de Pacino, Walken e Arkin

Ontem um amigo me perguntou por que eu não parava de falar em “Stand Up Guys” (no Brasil chama “Amigos Inseparáveis”) e questionou o motivo de eu querer tanto mostrar o filme para ele. Listando as minhas considerações acabei por resolver fazer o mesmo para o blog, afinal, quem por acaso passa por aqui merece sair com pelo menos um filme para alugar que seja de convencimento meu. E de hoje em diante quando me pedirem dica de longas, sem dúvida, essa será uma.
A história é a seguinte, Val acaba de cumprir 28 anos de prisão e no dia de sua saída é recepcionado por Doc, seu antigo parceiro do crime. A amizade dos dois é colocada em xeque, uma vez que Doc foi escalado por um líder criminoso para assassinar Val assim que saísse da cadeia. As últimas horas da dupla precisam, então, ser aproveitadas da melhor forma: drogas, mulheres, perseguições, roubos, pancadaria, tiros e a reunião de velhos amigos.
Imaginemos o seguinte, “Hangover” ("Se Beber Não Case") é a franquia de comédia mais rentável dos últimos tempos, então temos em “Stand Up Guys” uma história no estilo “Hangover”, em que três grandes amigos têm menos de 24h para realizar vontades reprimidas. Mas calma, o que faz de “Stand Up Guys” um filme infinitamente melhor é a experiência contida nele.
Inicialmente experiência etária. Todos os fanfarrões envolvidos têm mais de 70 anos, o que faz da história engraçada por si só, além de ter aquela pitada de responsabilidade e vivência que só os anos podem proporcionar. Eles não saem destruindo tudo como se não houvesse amanhã, eles saem dando lições de moral a muito marmanjo como se não houvesse amanhã.
Continuando a falar de experiência, há um ponto que não carece discussão. Você tem Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin protagonizando o longa. É de tirar o fôlego só de ver os caras juntos. Pacino com aquele olhar louco Scarface que é a única parte dele que não envelhece, Walken com seu jeito tão tranqüilizador que beira a psicopatia e Arkin que é sempre Arkin, que dá vontade de rir até quando está respirando por uma bomba de oxigênio. Para mim, o cara é o eterno avô da Little Miss Sunshine Olive, daquele filme sensacional que lhe rendeu um Oscar coadjuvante em 2007.
Acredito que a experiência já seria suficiente pra me fazer querer ver o longa, mas para os cinéfilos mais exigentes eu ainda tenho outros motivos para indicar “Stand Up Guys”. Eu diria que os três personagens são RocknRollas para Guy Ritchie nenhum botar defeito. E olha que para eu dizer que alguém fora o Mark Strong é um RocknRolla precisa muito, já que o personagem Tio Archie (RocknRolla) é amor eterno substituído apenas por Tony Montana (Scarface) e Travis Bickle (Taxi Driver).
Fora isso o filme tem um quê de Tarantino fenomenal. Não, não é Tarantino, mas por diversas vezes me lembrou o estilo “Cães de Aluguel”. O diretor, aliás, eu nunca tinha pesquisado e descobri que até vi uns filmes dele, mas só quando olhei bem a foto de Fisher Stevens percebi que a feição dele não me era estranha, o cara é conhecido por papéis secundários em diversos longas.
Um momento especial para mim em “Stand Up Guys” foi a cena que remeteu ao meu filme preferido com Pacino desde a infância. Eu sei que todo mundo pensa no “O Poderoso Chefão”, mas não, é “Perfume de Mulher”. Quem gosta do longa tanto quanto eu também vai se emocionar no momento em que o velho Al Pacino convence uma jovem a conceder a ele uma dança. Não há o glamour do hotel luxuoso, nem as notas de “Por Una Cabeza” e a cena até poderia ser descartada do filme, mas para mim foi de uma nostalgia de dar sorrisos bobos para TV. Fiquemos então com a cena original de “Perfume de Mulher” como inspiração AQUI.
Bom, e para finalizar a trilha de Stand Up Guys foi escolhida pelo Bon Jovi, já é a terceira vez que eu escuto toda ela hoje e a letra de Not running anymore está começando a me causar sensações esquisitas. Portanto, o filme vale para quem gosta de música, quem gosta de comédia, quem gosta de Tarantino, Guy Ritchie, de Pacino, Walken e Arkin ou para quem só quer ver um bom filme.
“It’s time to kick ass, or chew gum. And guess what? I’m all out of gum.”
TRAILER "STAND UP GUYS"

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Nas telonas: O quarto Gatsby

Quando Baz Luhrmann colocou Nicole Kidman sentada em uma balanço, no meio de um Cabaré, cantando, o mundo presenciou a cena de um dos filmes mais belos já produzidos para o cinema. Como qualquer musical, houve quem suspirou e quem praguejou, mas ninguém pode dizer que “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” (obra de 2001, indicada a seis Oscar e vencedora de duas categorias) não é de uma beleza de encher os olhos.
Antes de “Moulin Rouge” o diretor australiano já havia se arriscado na paleta de cores e no seu gosto para trilhas ao dirigir “Romeu e Julieta”, em 1996, uma versão mais atual do drama clássico de William Shakespeare e que tinha no papel principal o galã Leonardo DiCaprio. O longa não era um musical, mas tinha na direção de arte e na trilha sonora todo um aparato eloqüente para prender o espectador durante suas 2h de duração.
Agora mais maduro e reconhecido na sétima arte, Luhrmann volta aos cinemas para mostrar que continua gostando das mesmas coisas que o fizeram ser lembrado em seus longas anteriores. Depois de “Austrália”, filme de 2008 que teve novamente Nicole Kidman como protagonista e que não causou a mesma repercussão das outras duas produções, Luhrmann decidiu fazer com “O Grande Gatsby” o que muitos diretores têm feito para manter-se no auge: recorrer a fórmula de retorno certo das adaptações literárias.
O Grande Gatsby é considerado a maior obra do autor F. Scott Fitzgerald e um marco da literatura norte-americana. O romance faz um retrato dos anos 20, também conhecidos como a Era de Ouro, período fértil artisticamente (o início das grandes estrelas de Hollywood e o surgimento do jazz), com os avanços industriais (principalmente com a popularização dos automóveis, telefones e eletricidade) e uma demanda de consumo acelerada. Tudo isso é capturado no livro de Fitzgerald, que mostra a ascensão do bem sucedido Jay Gatsby, um recém-criado milionário de West Egg, que é completamente apaixonado por Daisy Buchanan, seu amor perdido ele anseia reconquistar.
O problema e a solução de Luhrmann acabam por se encontrar em um mesmo lugar. “O Grande Gatsby” é tão famoso na literatura americana que já foi adaptado para o cinema três vezes, sendo a atual uma quarta reconstrução da história, o que tornou o projeto desde o início um possível fracasso em termos de crítica cinematográfica.
Em 1927 quando Fitzgerald e a esposa foram assistir a uma prévia da primeira adaptação, Zelda Fitzgerald saiu da sala de projeção dizendo que o filme era “podre, horrível e terrível”. Mais de 20 anos se passaram até a segunda adaptação em estilo cinema noir e outros tantos vinte correram até o filme de 1974, que contava com o galã Robert Redford e a estrela Mia Farrow nos papéis de Gastby e Daisy e com um roteiro de, nada mais nada menos, que o poderoso chefão Francis Ford Coppola.
Inicialmente a adaptação de 1974 tinha tudo que um grande filme precisava, nomes de peso e uma história que as pessoas queriam ver. Mas provavelmente se Zelda estivesse viva não teria um comentário muito diferente de “podre, horrível e terrível” para fazer com relação ao longa. “O Grande Gatsby” de 1974 tem um estilo clássico e é, não por poucas vezes, cansativo de ver.
E os críticos continuam se perguntando quantas vezes Gatsby ainda irá transportar para a tela sua paixão louca por Daisy? Na trama, o garoto pobre cria para si um personagem em torno da fortuna para se colocar no plano da rica herdeira. Mas ainda assim há uma coisa que o dinheiro não compra, o sangue. Gatsby tem seu mundo inventado destruído pelo casal Tom e Daisy Buchanan pela quarta vez no cinema.
Os personagens, aliás, não têm nada de normal. Tom pode ser rico de berço, mas é um refém de sua própria ignorância, enquanto Daisy remonta a perfeita mulher ingênua e usa isso como privilégio para não ter consciência do que faz. O único com ciência de tudo que acontece na trama é o narrador Nick Carraway, primo de Daisy.
Debate
Ainda que o passado condene a adaptação, a mais nova versão de “O Grande Gatsby” surpreendeu Hollywood ao render US$ 51 milhões (R$102 milhões) no seu fim de semana de estreia nos cinemas dos Estados Unidos, um exemplo claro do trabalho de marketing desenvolvido em torno do projeto.
Quem tem acompanhado o universo cinematográfico sabe que as datas de estréia dos filmes não são escolhidas aleatoriamente, seguindo a finalização do projeto. Existem estudos que comprovam que, nos Estados Unidos, filmes lançados durante o verão recebem menos bilheteria que no período de inverno porque, por exemplo, ele é acalentado por fazer um aquecimento para o Oscar.
“O Grande Gatsby” estava previsto pela Warner para estrear no fim de 2012 por ser basicamente um longa com ‘cara de Oscar’, não de Blockbuster. Quando a distribuidora resolveu mudar a estréia para o verão estadunidense muitos pensaram que ela havia desistido do sucesso da obra, o que provou ser completamente o contrário meses depois. Primeiro que a Warner tinha “Argo” que, não por menos, levou a estatueta de Melhor Filme no Oscar 2013. Segundo que o que se viu e ouviu após o adiamento da estréia de “O Grande Gatsby” foi provavelmente o grande responsável pelos números surpreendentes nas bilheterias.
A verdade é que a Warner começou, desde então, a compartilhar curiosidades, informações e notícias sobre o filme nas redes sociais. A trilha sonora surpreendente para um filme de época - que conta com Jay-Z, Beyoncé, Lana Del Rey e Florence and the Machine em meio a ascensão do Jazz nos anos 20 – foi uma das mais buscadas pelos internautas, Leonardo DiCaprio voltou a ser foco de comentários e entrevistas e a presença dele no filme rendeu discussões infindáveis e o sucesso do livro veio a tona, tudo ao mesmo tempo. A conseqüência disso é que o debate chegou ao topo das mídias virtuais, das impressas e, porque não, do boca a boca. Mais uma prova de que a propaganda é realmente a alma do negócio.
Versão
“Nenhum fogo poderia destruir o conto de fadas que ele tinha em seu coração”, conta Tobey Maguire no papel de Nick Carraway ao descrever o Gatsby de Luhrmann. Enquanto Maguire ressurge em um papel de visibilidade que não vai tirar dele a sina de Homem-Aranha morno, mas que já é um avanço, Carey Mulligan é uma perfeita dama que, contudo, fica a mercê do elenco masculino da trama, que reúne toda a força do espetáculo.
E “O Grande Gatsby” é tudo isso que Baz Luhrmann faz com maestria: um espetáculo bem conduzido. A primeira parte do filme recebeu inúmeras reclamações dos críticos por ser criada em torno dos artifícios de cabaré que fizeram de “Moulin Rouge” um sucesso com seu mundo de festas, plumas, maquiagens e paetês. A segunda parte tem o tom mais duro e, porque não dizer, trágico de “Romeu e Julieta”. E nas raras ocasiões em que o diretor permite que DiCaprio, Mulligan, Maguire e Joel Edgerton (que interpreta Tom, o marido de Daisy) ganhem espaço entre o figurino perfeito e a fotografia encantada, os quatro fazem um papel surpreendente.
A trilha sonora é um espetáculo a parte e prova o quanto uma boa escolha musical faz diferença em um filme. Nem sempre a mistura entre o antigo e o novo de Luhrmann funciona, mas em “O Grande Gatsby” ele soube escolher bem seus representantes.
Talvez se Zelda e Scott Fitzgerald estivessem vivos para ver essa quarta adaptação eles não sairiam do cinema tão desapontados. Claro que o conhecimento pessoal pesa um pouco mais quando a trama tem inspiração nas tragédias da sua própria vida, mas ninguém pode dizer que o trabalho não foi feito, e bem feito.