sábado, 18 de dezembro de 2010

Um capítulo para não ser esquecido: "Claquete - Cinema do Argumento à Estreia"

FADE OUT

Do argumento à estreia, um objetivo singular: encontrar o público.

O cinema brasileiro, sempre rico em identidade e original em ideias conquista espaço na vida dos brasileiros aos poucos. Diferente do mundo do instante Hollywoodiano, que tem cerca de 9 estreias semanais, no Brasil a busca incessante é pela viabilidade financeira e pelo seu público.

A sétima arte nacional hoje depende das leis de incentivo e é por elas que ela existe. Mas depende também da força de vontade de pessoas que doam o melhor de si em busca de, com baixos orçamentos – comparados aos blockbusters do alto escalão – atingir grandes públicos e tornar real o que é eterno, a história. São centenas de profissionais que dedicam anos em pré, produção e pós para que uma obra seja concluída e que possa ter seu real começo: a plateia.


Na dramaturgia o cinema interpreta o papel perene, aquele que guarda e revela ao mesmo tempo e para sempre a história idealizada, filmada e narrada. No Brasil, o cinema que conquistou plateias com histórias de um caipira jeca e sobreviveu à falta de dinheiro, incentivo e público com as risadas de um quarteto inesquecível, Os Trapalhões, hoje gera filas em algumas estreias memoráveis e cadeiras disputadas.

Temos um cinema que exibe na comédia sua prosa e no drama social sua poesia. Que luta para alcançar seu público, ao passo que muitas vezes critica filmes de sucesso. A sua identidade é notória para os olhos do mundo e, muitas vezes, incompreendida pelos nossos.

Para nós falado em português e para os estrangeiros falado em brasileiro, nossa Sétima Arte é composta por uma aquarela de obras-primas desconhecidas e raras nas salas de cinema como OLHO DE BOI, de Hermano Penna, A MÁQUINA, de João Falcão, ou DURVAL DISCOS, de Anna Muylaert. Mas ainda sim obras que conquistam estrangeiros que falam todas as línguas do mundo, que assistem aos filmes dublados, com legendas, não importa.

No compasso das boas ideias os profissionais carregam consigo o ardor de sonhar o impensável e realizar o inconcebível para muitos: convencer que milhões gastos com cinema são bilhões ganhos em formação humana de uma sociedade. A nossa.

Frente ao ‘estrelismo’ de poucos, surge a sensibilidade humana de muitos que falam de seu trabalho com seriedade e naturalidade e buscam cuidar daquilo que necessitam e que, perceptivelmente, amam: seu ofício, sua arte.


As luzes ainda não se acenderam, mas o filme já terminou. Minutos de melancolia que pedem mais uma lágrima, mais um sorriso, mais uma gargalhada ou um respirar fundo para conseguir raciocinar melhor. Mais uma surpresa, uma emoção. Ao entrarmos em um cinema o resto do mundo para, os problemas cessam e nos permitimos embarcar em uma nova realidade, não tão real, mas muito mais próxima de nós que do resto do mundo.

A emoção de ler FIM na gigante tela, ao invés de THE END é quase sufocada por luzes que se acendem e nos convidam discreta, porém duramente, a deixarmos a sala que em nossas memórias ainda possui aquele carpete escuro, poltronas vermelhas e cheiro de pipoca. Somos então a pequena plateia que carrega um agradecimento singelo a cada um daqueles nomes que surgem na tela com fundo preto e que auxiliaram, de algum modo, a contar aquela história.

São mais de 100 anos de Sétima Arte que ainda fazem a magia do cinema ser algo inexplicável, que não agrada apenas aos olhos, mas a mente, ao coração. É também uma arte de moldar sentimentos e construir vidas artesanalmente, montadas com alicerces de sonhos tão próximos da realidade que chegam a confundir.

A nós, espectadores, resta a luz que indica a porta de saída e aquela vontade de novamente ouvir as vozes, ruídos, notas musicais. Ver as cores, as luzes, as roupas, os sorrisos transformando uma sequência de minutos em uma sequência de suspiros.

De nós, cinéfilas, jornalistas e plateia, uma salva de palmas a todos os profissionais, genuinamente brasileiros – ou mesmo adotados por nós – que colaboram para fazer de uma grande história um filme e de um sonho um livro. Ou vice-versa.


O texto acima foi extraído do livro-reportagem “Claquete – Cinema do Argumento à Estreia”, produzido em 2009 como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo pela minha sempre parceira Marianna D’Amore e eu. O capítulo em questão encerra o conteúdo do livro.

Conheçam outros textos da D'Amore em http://brazilianfilmfestival.com/blog/
Quem quiser ler o Claquete, entre em contato com uma de nós.