domingo, 15 de dezembro de 2013

A plastificação da Terra Média

Em "O Hobbit: A Desolação de Smaug" Peter Jackson apresenta um mundo esteticamente tão perfeito que deixa de ser Terra Média para virar obra de arte
Em 2002 quando encarei uma fila de empolgação e gente na porta do cinema para ver o primeiro O Senhor dos Anéis havia em mim uma expectativa que apenas outro livro despertou: Harry Potter. O que as duas ficções me causavam em comum era a vontade de viver aquilo que, de alguma forma, eu conseguia ligar a minha realidade, fosse imaginando que um dia houve nesse mundo uma Terra Média, fosse pensando que havia bruxos nos fazendo de 'trouxas'… e que minha carta de ingresso em Hogwarts foi extraviada, talvez.
O que Peter Jackson, diretor do segundo longa da trilogia O Hobbit, fez comigo nesse novo filme foi encantador e ao mesmo tempo frustrante. Infelizmente o ponto ruim, a que me refiro nesse texto, é que nas 2h41 de longa Jackson arremessou de um penhasco toda a minha alma medieval e cuspiu na minha cara dizendo: Isso é um filme foda que provém de um livro de ficção, criança, agora volte para a sua realidade feia.
Sinopse. A história entra pela porta deixada aberta no final do primeiro longa. Após iniciar sua jornada ao lado de um grupo de anões e de Gandalf (Ian McKellen), Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) segue em direção à Montanha Solitária, onde deverá ajudar seus companheiros de missão a retomar a Pedra de Arken, que fará com que Thorin (Richard Armitage) obtenha o respeito de todos os anões e o apoio na luta para retomar seu reino. O problema é que o artefato está perdido em meio a um tesouro protegido pelo temido dragão Smaug (voz de Benedict Cumberbatch). Ao mesmo tempo, Gandalf investiga uma nova força sombria que surge na Terra Média. -Via adorocinema.com.br
Plástica. Logo no início do filme a qualidade visual me incomodou tanto que tive a sensação que Thorin era perseguido por duas bonecas na estalaria do Ponei Saltitante. A cena, que pouca importância tem para o resto do filme, mostra como o anão e Gandalf se conheceram e, como em tantas outras, inclui o espectador em uma história não contada no livro, mas que, por vezes, ajuda a criar um contexto que nos leve a trama de "O Senhor dos Anéis". Não é o caso específico dessa cena, podiam jogar ela fora.
De qualquer forma estou certa de que a sala de cinema que escolhi para assistir ao "O Hobbit: A Desolação de Smaug" tem grande parte da culpa de toda a minha frustração, mas se é para ser um dos melhores filmes do ano, que seja visto mesmo em tecnologia Imax.
O fato é que a perfeição daquela Terra Média criada pelo diretor de fotografia Andrew Lesnie é tão deslumbrante que não cabe, para mim, no peso das cenas. Tudo se torna tão plástico que até meus olhos se acostumarem eu tinha certeza de estar assistindo a um jogo de videogamente em high definition. Some a isso uns ângulos de câmera esquisitos (ar de erro de movimentação, com direito a perda de foco e até uns chicotes) mais as passeadinhas na montanha-russa da grua para mostrar quão esteticamente lindos eram os cenários a cada nova cena e pronto, já podem vender o jogo pro PS4.
O tratamento de imagem foi feito de forma tão plástica que acredito que não reconheceria nenhum ator do filme se tropeçasse nele na rua. A tecnologia construiu algo tão perfeito que perdeu a conexão que poderia haver com o real e até a sujeira das unhas dos anões é artisticamente bonita. Pura obra de arte que incomoda.
Até você se acostumar.
Depois disso não há palavras para descrever o desenrolar de A Desolação de Smaug.
Ao contrário do primeiro longa “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, esse conseguiu equilibrar perfeitamente o longo tempo que o diretor possuia com a ação e a história escrita por J.R.R. Tolkien. As inserções de personagens que remetem a primeira trilogia ficaram mais fundidas que no primeiro filme e acredito que quem não leu O Hobbit e resolva fazer isso futuramente vai estranhar a ausência de Legolas (Orlando Bloom) na história. A própria elfa Tauriel (Evangeline Lilly) criada apenas para a trilogia, se encaixa bem a trama, mesmo que em um triângulo romântico forçado.
Do meio para o fim do filme, quando finalmente nos deparamos com Smaug (ouso escrever que foi o melhor dragão já criado para o cinema - até o momento), a sensação é a mesma que Jackson causou no primeiro longa quando houve o encontro entre Bilbo e Gollum: você sente que esperou o dia todo para aquele momento e que sim, valeu cada minuto. É um êxtase não só crucial, como também responsável por fazer o espectador esquecer tudo que poderia não ter gostado do filme. Tanto o diálogo entre os personagens, quanto o final que rege a trama são de agradecer a tecnologia por poder ser usada para fazer cinema. É lindo, é sombrio, é de querer rebobinar.
E termina num épico momento sem fim -como aconteceu no primeiro filme-, deixando todos os espectadores órfãos de um merecido “The End”, mas congelados na poltrona com a frase “I am fire. I am death”, que antecede os créditos finais.
No fim, Peter Jackson, você pode ser até Monet se quiser. Do que eu estava reclamando mesmo?
Destaque. As coreografias de luta são os pontos mais cômicos do longa, com atenção especial para a que reune Orcs, Anões e Elfos no rio.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O hangover de Pacino, Walken e Arkin

Ontem um amigo me perguntou por que eu não parava de falar em “Stand Up Guys” (no Brasil chama “Amigos Inseparáveis”) e questionou o motivo de eu querer tanto mostrar o filme para ele. Listando as minhas considerações acabei por resolver fazer o mesmo para o blog, afinal, quem por acaso passa por aqui merece sair com pelo menos um filme para alugar que seja de convencimento meu. E de hoje em diante quando me pedirem dica de longas, sem dúvida, essa será uma.
A história é a seguinte, Val acaba de cumprir 28 anos de prisão e no dia de sua saída é recepcionado por Doc, seu antigo parceiro do crime. A amizade dos dois é colocada em xeque, uma vez que Doc foi escalado por um líder criminoso para assassinar Val assim que saísse da cadeia. As últimas horas da dupla precisam, então, ser aproveitadas da melhor forma: drogas, mulheres, perseguições, roubos, pancadaria, tiros e a reunião de velhos amigos.
Imaginemos o seguinte, “Hangover” ("Se Beber Não Case") é a franquia de comédia mais rentável dos últimos tempos, então temos em “Stand Up Guys” uma história no estilo “Hangover”, em que três grandes amigos têm menos de 24h para realizar vontades reprimidas. Mas calma, o que faz de “Stand Up Guys” um filme infinitamente melhor é a experiência contida nele.
Inicialmente experiência etária. Todos os fanfarrões envolvidos têm mais de 70 anos, o que faz da história engraçada por si só, além de ter aquela pitada de responsabilidade e vivência que só os anos podem proporcionar. Eles não saem destruindo tudo como se não houvesse amanhã, eles saem dando lições de moral a muito marmanjo como se não houvesse amanhã.
Continuando a falar de experiência, há um ponto que não carece discussão. Você tem Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin protagonizando o longa. É de tirar o fôlego só de ver os caras juntos. Pacino com aquele olhar louco Scarface que é a única parte dele que não envelhece, Walken com seu jeito tão tranqüilizador que beira a psicopatia e Arkin que é sempre Arkin, que dá vontade de rir até quando está respirando por uma bomba de oxigênio. Para mim, o cara é o eterno avô da Little Miss Sunshine Olive, daquele filme sensacional que lhe rendeu um Oscar coadjuvante em 2007.
Acredito que a experiência já seria suficiente pra me fazer querer ver o longa, mas para os cinéfilos mais exigentes eu ainda tenho outros motivos para indicar “Stand Up Guys”. Eu diria que os três personagens são RocknRollas para Guy Ritchie nenhum botar defeito. E olha que para eu dizer que alguém fora o Mark Strong é um RocknRolla precisa muito, já que o personagem Tio Archie (RocknRolla) é amor eterno substituído apenas por Tony Montana (Scarface) e Travis Bickle (Taxi Driver).
Fora isso o filme tem um quê de Tarantino fenomenal. Não, não é Tarantino, mas por diversas vezes me lembrou o estilo “Cães de Aluguel”. O diretor, aliás, eu nunca tinha pesquisado e descobri que até vi uns filmes dele, mas só quando olhei bem a foto de Fisher Stevens percebi que a feição dele não me era estranha, o cara é conhecido por papéis secundários em diversos longas.
Um momento especial para mim em “Stand Up Guys” foi a cena que remeteu ao meu filme preferido com Pacino desde a infância. Eu sei que todo mundo pensa no “O Poderoso Chefão”, mas não, é “Perfume de Mulher”. Quem gosta do longa tanto quanto eu também vai se emocionar no momento em que o velho Al Pacino convence uma jovem a conceder a ele uma dança. Não há o glamour do hotel luxuoso, nem as notas de “Por Una Cabeza” e a cena até poderia ser descartada do filme, mas para mim foi de uma nostalgia de dar sorrisos bobos para TV. Fiquemos então com a cena original de “Perfume de Mulher” como inspiração AQUI.
Bom, e para finalizar a trilha de Stand Up Guys foi escolhida pelo Bon Jovi, já é a terceira vez que eu escuto toda ela hoje e a letra de Not running anymore está começando a me causar sensações esquisitas. Portanto, o filme vale para quem gosta de música, quem gosta de comédia, quem gosta de Tarantino, Guy Ritchie, de Pacino, Walken e Arkin ou para quem só quer ver um bom filme.
“It’s time to kick ass, or chew gum. And guess what? I’m all out of gum.”
TRAILER "STAND UP GUYS"

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Nas telonas: O quarto Gatsby

Quando Baz Luhrmann colocou Nicole Kidman sentada em uma balanço, no meio de um Cabaré, cantando, o mundo presenciou a cena de um dos filmes mais belos já produzidos para o cinema. Como qualquer musical, houve quem suspirou e quem praguejou, mas ninguém pode dizer que “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” (obra de 2001, indicada a seis Oscar e vencedora de duas categorias) não é de uma beleza de encher os olhos.
Antes de “Moulin Rouge” o diretor australiano já havia se arriscado na paleta de cores e no seu gosto para trilhas ao dirigir “Romeu e Julieta”, em 1996, uma versão mais atual do drama clássico de William Shakespeare e que tinha no papel principal o galã Leonardo DiCaprio. O longa não era um musical, mas tinha na direção de arte e na trilha sonora todo um aparato eloqüente para prender o espectador durante suas 2h de duração.
Agora mais maduro e reconhecido na sétima arte, Luhrmann volta aos cinemas para mostrar que continua gostando das mesmas coisas que o fizeram ser lembrado em seus longas anteriores. Depois de “Austrália”, filme de 2008 que teve novamente Nicole Kidman como protagonista e que não causou a mesma repercussão das outras duas produções, Luhrmann decidiu fazer com “O Grande Gatsby” o que muitos diretores têm feito para manter-se no auge: recorrer a fórmula de retorno certo das adaptações literárias.
O Grande Gatsby é considerado a maior obra do autor F. Scott Fitzgerald e um marco da literatura norte-americana. O romance faz um retrato dos anos 20, também conhecidos como a Era de Ouro, período fértil artisticamente (o início das grandes estrelas de Hollywood e o surgimento do jazz), com os avanços industriais (principalmente com a popularização dos automóveis, telefones e eletricidade) e uma demanda de consumo acelerada. Tudo isso é capturado no livro de Fitzgerald, que mostra a ascensão do bem sucedido Jay Gatsby, um recém-criado milionário de West Egg, que é completamente apaixonado por Daisy Buchanan, seu amor perdido ele anseia reconquistar.
O problema e a solução de Luhrmann acabam por se encontrar em um mesmo lugar. “O Grande Gatsby” é tão famoso na literatura americana que já foi adaptado para o cinema três vezes, sendo a atual uma quarta reconstrução da história, o que tornou o projeto desde o início um possível fracasso em termos de crítica cinematográfica.
Em 1927 quando Fitzgerald e a esposa foram assistir a uma prévia da primeira adaptação, Zelda Fitzgerald saiu da sala de projeção dizendo que o filme era “podre, horrível e terrível”. Mais de 20 anos se passaram até a segunda adaptação em estilo cinema noir e outros tantos vinte correram até o filme de 1974, que contava com o galã Robert Redford e a estrela Mia Farrow nos papéis de Gastby e Daisy e com um roteiro de, nada mais nada menos, que o poderoso chefão Francis Ford Coppola.
Inicialmente a adaptação de 1974 tinha tudo que um grande filme precisava, nomes de peso e uma história que as pessoas queriam ver. Mas provavelmente se Zelda estivesse viva não teria um comentário muito diferente de “podre, horrível e terrível” para fazer com relação ao longa. “O Grande Gatsby” de 1974 tem um estilo clássico e é, não por poucas vezes, cansativo de ver.
E os críticos continuam se perguntando quantas vezes Gatsby ainda irá transportar para a tela sua paixão louca por Daisy? Na trama, o garoto pobre cria para si um personagem em torno da fortuna para se colocar no plano da rica herdeira. Mas ainda assim há uma coisa que o dinheiro não compra, o sangue. Gatsby tem seu mundo inventado destruído pelo casal Tom e Daisy Buchanan pela quarta vez no cinema.
Os personagens, aliás, não têm nada de normal. Tom pode ser rico de berço, mas é um refém de sua própria ignorância, enquanto Daisy remonta a perfeita mulher ingênua e usa isso como privilégio para não ter consciência do que faz. O único com ciência de tudo que acontece na trama é o narrador Nick Carraway, primo de Daisy.
Debate
Ainda que o passado condene a adaptação, a mais nova versão de “O Grande Gatsby” surpreendeu Hollywood ao render US$ 51 milhões (R$102 milhões) no seu fim de semana de estreia nos cinemas dos Estados Unidos, um exemplo claro do trabalho de marketing desenvolvido em torno do projeto.
Quem tem acompanhado o universo cinematográfico sabe que as datas de estréia dos filmes não são escolhidas aleatoriamente, seguindo a finalização do projeto. Existem estudos que comprovam que, nos Estados Unidos, filmes lançados durante o verão recebem menos bilheteria que no período de inverno porque, por exemplo, ele é acalentado por fazer um aquecimento para o Oscar.
“O Grande Gatsby” estava previsto pela Warner para estrear no fim de 2012 por ser basicamente um longa com ‘cara de Oscar’, não de Blockbuster. Quando a distribuidora resolveu mudar a estréia para o verão estadunidense muitos pensaram que ela havia desistido do sucesso da obra, o que provou ser completamente o contrário meses depois. Primeiro que a Warner tinha “Argo” que, não por menos, levou a estatueta de Melhor Filme no Oscar 2013. Segundo que o que se viu e ouviu após o adiamento da estréia de “O Grande Gatsby” foi provavelmente o grande responsável pelos números surpreendentes nas bilheterias.
A verdade é que a Warner começou, desde então, a compartilhar curiosidades, informações e notícias sobre o filme nas redes sociais. A trilha sonora surpreendente para um filme de época - que conta com Jay-Z, Beyoncé, Lana Del Rey e Florence and the Machine em meio a ascensão do Jazz nos anos 20 – foi uma das mais buscadas pelos internautas, Leonardo DiCaprio voltou a ser foco de comentários e entrevistas e a presença dele no filme rendeu discussões infindáveis e o sucesso do livro veio a tona, tudo ao mesmo tempo. A conseqüência disso é que o debate chegou ao topo das mídias virtuais, das impressas e, porque não, do boca a boca. Mais uma prova de que a propaganda é realmente a alma do negócio.
Versão
“Nenhum fogo poderia destruir o conto de fadas que ele tinha em seu coração”, conta Tobey Maguire no papel de Nick Carraway ao descrever o Gatsby de Luhrmann. Enquanto Maguire ressurge em um papel de visibilidade que não vai tirar dele a sina de Homem-Aranha morno, mas que já é um avanço, Carey Mulligan é uma perfeita dama que, contudo, fica a mercê do elenco masculino da trama, que reúne toda a força do espetáculo.
E “O Grande Gatsby” é tudo isso que Baz Luhrmann faz com maestria: um espetáculo bem conduzido. A primeira parte do filme recebeu inúmeras reclamações dos críticos por ser criada em torno dos artifícios de cabaré que fizeram de “Moulin Rouge” um sucesso com seu mundo de festas, plumas, maquiagens e paetês. A segunda parte tem o tom mais duro e, porque não dizer, trágico de “Romeu e Julieta”. E nas raras ocasiões em que o diretor permite que DiCaprio, Mulligan, Maguire e Joel Edgerton (que interpreta Tom, o marido de Daisy) ganhem espaço entre o figurino perfeito e a fotografia encantada, os quatro fazem um papel surpreendente.
A trilha sonora é um espetáculo a parte e prova o quanto uma boa escolha musical faz diferença em um filme. Nem sempre a mistura entre o antigo e o novo de Luhrmann funciona, mas em “O Grande Gatsby” ele soube escolher bem seus representantes.
Talvez se Zelda e Scott Fitzgerald estivessem vivos para ver essa quarta adaptação eles não sairiam do cinema tão desapontados. Claro que o conhecimento pessoal pesa um pouco mais quando a trama tem inspiração nas tragédias da sua própria vida, mas ninguém pode dizer que o trabalho não foi feito, e bem feito.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Esse tal João de Santo Cristo

Quem foi adolescente na década de 90 tinha duas obrigações irrefutáveis: alimentar o bichinho virtual e decorar a letra de Faroeste Caboclo, música da banda Legião Urbana. Não era uma época como agora, em que se abre um site, digita o nome da canção e logo recebe a ficha técnica com letra, cifra e vídeo referente no youtube. As opções para reunir os 168 versos da música com mais de nove minutos de duração se resumiam ao encarte do CD ou a alguém de bom coração e tempo livre que resolvesse transcrever e fazer cópias para os amigos.
Composta em 1979 e lançada oficialmente em 1987 no álbum “Que País é Esse”, Faroeste Caboclo simbolizou toda a descrença no sistema governamental de uma geração que não saia mais para as ruas para protestar (como seus antecessores criados pela ditadura militar), mas que usava a letra do vocalista Renato Russo para mostrar que, embora não se envolvessem em manifestações, estavam indignados. Faroeste Caboclo virou uma bandeira a ser defendida e um hit de sucesso com ar revolucionário.
Portanto não parece novidade a notícia de que a letra, que conta uma história com começo, meio e fim, se transformou em um filme. Foram 26 anos desde o lançamento da música mais famosa da Legião Urbana até 30 de maio de 2013, dia em que será lançada a adaptação de Faroeste Caboclo para os cinemas. O trailer do longa, publicado na internet no início de abril, recebeu mais de dois milhões de visualizações em menos de uma semana. Para exemplificar o que isso significa o sucesso de bilheterias “Tropa de Elite 2” teve apenas 930 mil visualizações no mesmo período.
Trama
Protagonizado por Ísis Valverde, Fabrício Boliveira e Felipe Abib, o longa é uma adaptação da música homônima. Ela narra a trágica história de amor entre Maria Lucia (Ísis) e João de Santo Cristo (Boliveira), rapaz de origem humilde que sai de casa em busca de uma nova vida, mas se envolve com o tráfico de drogas e começa a colecionar inimigos, entre eles Jeremias (Abib), com quem trava uma briga pessoal pelo amor de Maria Lucia.
O roteiro do longa foi escrito por Marcos Bernstein (“O Outro Lado da Rua”) e Victor Atherino com auxílio do escritor Paulo Lins -autor do livro que gerou o sucesso Cidade de Deus- e a direção ficou sob a responsabilidade do estreante em longa-metragens René Sampaio. A Copacabana Filmes adquiriu os direitos de adaptação para o cinema da música em 2005 e depois de muito burburinho os fãs finalmente podem começar a se preparar para um filme que promete boas críticas.
Adaptação
Para o desespero dos fã-clubes do personagem João de Santo Cristo, a história, por mais fiel a letra de Renato Russo, também precisou de algumas mudanças para poder agregar sentido a trama. Afinal, o roteiro é uma adaptação e, como tal, precisou sofrer ajustes para se encaixar na nova mídia.
O filme começa com a trajetória de João desde sua infância conturbada na Bahia até partir para Brasília. A composição de Renato Russo também segue a estrutura cronológica, mas não conta de forma detalhada a maneira que o protagonista conhece Maria Lucia e Jeremias.
No longa, Jeremias e Maria Lucia fazem parte de uma turma de amigos que se conhece desde a infância e João entra no grupo ao se interessar pela garota. A partir de então a trama se desenrola como propõe a música e termina no trágico duelo entre ele e Jeremias por causa do amor da jovem.
Renato Russo
Ao falar sobre Faroeste Caboclo Renato Russo descreveu: “é uma mistura de "Domingo no Parque" de Gilberto Gil, e coisas do Raul Seixas com a tradição oral do povo brasileiro. Brasileiro adora contar história.”
O autor da música morreu em 1996, no auge do sucesso da canção, aos 36 anos por causa de complicações causadas pela AIDS. Além de “Faroeste Caboclo”, os fãs também poderão acompanhar nos cinemas a trajetória de vida do artista pelo filme “Somos Tão Jovens”, em cartaz a partir do dia três deste mês.
O longa, ao contrário do que muitos pensam, não é um documentário e sim uma obra ficcional. Tendo como diretor Antonio Carlos da Fontoura e no papel principal o ator Thiago Mendonça, o filme foi produzido no mesmo período de “Faroeste Caboclo” e pode ser um ‘aperitivo’ para os fãs mais impacientes.
Curiosidades
“Faroeste Caboclo” foi o último trabalho do ator Marcos Paulo, que faleceu em 11 de novembro de 2012 aos 61 anos, quando o filme já estava em pós-produção.
*matéria publicada na revista Valeparaibano de maio/2013
Trailer do filme Faroeste Caboclo AQUI.
Música AQUI.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Império Stark em contagem regressiva

Há poucos dias da estreia de "Homem de Ferro 3" o cine-rosebud traz um apanhado de toda a história para preparar vocês.
Os super heróis dos quadrinhos sempre tiveram seu espaço no cinema, mas nunca a categoria foi tão adaptada para as telonas. Hoje, entre filmes de suspense, comédia e ação, por exemplo, a “adaptação de HQ” já está praticamente listada como um gênero cinematográfico, com regras e estilos próprios. Não é por menos que 2013 está repleto dessas produções, elas são campeãs de bilheteria e resultam em um retorno, além de significativo, garantido para os exibidores. E esse bom resultado deve se repetir 26 de abril, quando acontece o lançamento de “Homem de Ferro 3” nos cinemas do Brasil.
Nessa nova trama, o multimilionário Tony Stark, interpretado por Robert Downey Jr, vai enfrentar além de um inimigo a altura seus próprios pesadelos, literalmente. Stark deixa um pouco de lado seu egocentrismo e individualidade para nesse terceiro longa-metragem se tornar mais humano a partir do momento que teme não conseguir proteger sua namorada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow).
O vilão da vez é o Mandarim, transportado para as telas pelo vencedor do Oscar Ben Kingsley, que decide atacar tudo que Stark ama com força total, destruindo sua mansão e reafirmando seus pesadelos ao capturar Pepper. Para enfrentá-lo, o Homem de Ferro precisa superar seu medo de fracassar e definir se é a armadura que faz um herói, ou o contrário.
Personagem. Tony Stark sempre foi o herói da tecnologia. Sem nenhum poder especial, o que o fez cair no gosto do público foi exatamente o estigma anti-herói que ele carrega: um homem cheio de defeitos e que utiliza o dinheiro para criar protótipos que o tornam super. Este novo filme pretende confrontar a realidade de Stark, obrigando o personagem a exigir mais de si, da sua inteligência, perspicácia e humanidade e, ao mesmo tempo, menos dos recursos tecnológicos.
Desafio. Homem de Ferro 1 estreou nos cinemas em 2008 como o primeiro filme produzido pela Marvel Entertainment sem a participação de qualquer distribuidora. Isso aconteceu um ano antes de a editora ser vendida para a Disney por $4 bilhões (aproximadamente R$8 bilhões).
Mesmo sendo pouco comentado no Brasil fora do universo das HQs, o primeiro filme causou um furor na sétima arte e foi praticamente um divisor de águas da velha e da nova geração de adaptações desse gênero para o cinema e o verdadeiro pontapé inicial para a super produção mais comentada de 2012, “Os Vingadores”. Até então apenas “Hulk” (2003) tinha sido lançado e não agradou completamente o público, mas a Marvel se redimiu meses depois de “Homem de Ferro 1” com o lançamento de “O Incrível Hulk” (2008). A partir de então foram produzidos “Capitão América: o Primeiro Vingador” (2011), “Thor” (2011) e finalmente a reunião de heróis mais comentada dos últimos anos –já que a Liga da Justiça continua praticamente engavetada- “Os Vingadores”, unindo Homem de Ferro, a Viúva Negra, o Arqueiro, Thor, Capitão América e Hulk.
O desafio de “Homem de Ferro 3” é seguir a mesma linha de sucesso de “Os Vingadores”, o que não será uma tarefa fácil, já que mesmo o longa sendo o primeiro filme Marvel com distribuição Disney e foi a maior bilheteria da história do cinema brasileiro e a terceira maior do mundo.
Em entrevista, o presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, explicou que, por mais que exista o desafio, a idéia não é superar o longa anterior. “Nós queríamos uma história com Tony Stark em foco, com sua vida destruída, ver como ele lida com um arquirrival sem poder contar com a armadura e devolvê-lo à caverna, metaforicamente, com uma caixa de tralhas, como no primeiro filme. Se fosse algo do tamanho de “Os Vingadores” acho que Shane (Black, diretor do longa) não se interessaria e não seria a pessoa certa para o trabalho. Mas para aprofundar a jornada pessoal de Tony Stark, Shane é o cara perfeito.”
Origem (por Claudio Leyria).O Homem de Ferro foi criado pelo mestre dos super-heróis Stan Lee, com ajuda do irmão Larry Lieber, e com concepção visual dos desenhistas Don Heck e Jack Kirby. Sua primeira aparição foi no gibi “Tales of Suspense”, de março de 1963. Isso mesmo, o Homem de Ferro é um cinquentão.
Quando foi lançado, fervia a guerra do Vietnã. E Stan Lee imaginou Tony Stark, um gênio da mecatrônica, inspirado no milionário americano Howard Hughes. Stark, em visita ao Vietnã a negócios, já que estava atuando no mercado de armas, acaba sendo atingido por uma explosão e estilhaços da bomba atingiram seu peito, ameaçando seu coração. Stark foi capturado e levado ao terrível Wong Chu, que o forçou a construir uma poderosa arma para os vietcongues. O engenheiro criou um sistema magnético para manter os estilhaços longe de seu coração e criou uma rudimentar, mas eficiente armadura, para se livrar dos inimigos. Isso tudo com a ajuda de Yin Sen, outro gênio prisioneiro. Sen ajuda Stark a fugir e isso lhe custa a vida.
No cinema, no filme lançado em 2008, apenas o cenário mudou. Em vez de Vietnã, agora é Oriente Médio. Depois daquela primeira armadura que parecia um robô dos seriados dos anos 40, Stark foi se aperfeiçoando. Hoje, a lista de modelos já ultrapassa 20.
Depois de anos comercializando projetos bélicos e entendendo melhor o valor da vida, principalmente porque Sen lhe deu a sua, Stark se torna o Homem de Ferro, herói a serviço da justiça, da lei e da ordem.
Como acontece com a maioria dos personagens da Marvel, com o passar destas cinco décadas, o personagem foi sendo lapidado, se tornando mais humano. Para o Homem de Ferro, os roteiristas lhe prepararam um inferno pessoal originado pelo alcoolismo. Quem viu os dois primeiros filmes, sabe que um dia este vício vai lhe trazer muitos problemas.
Nos quadrinhos, a bebida jogou Stark no fundo do poço, a ponto do Homem de Ferro ser assumido pelo amigo de Stark, o ex-militar James Rhodes, presente nos três filmes do cinema.
Desde sua criação há 50 anos, o Homem de Ferro já ganhou várias séries de animação, afundou em um piloto de TV estilo "O Homem do Fundo do Mar" e teve vários games. Seu primeiro filme no cinema marca o início de produção cinematográfica pela própria Marvel (sem a infraestrutura dos outros estúdios, como acontecia desde "X-Men", de 1999). O auge do Homem de Ferro na telona foi sua participação destacada em "Os Vingadores".
Futuro. Ainda esse ano a Marvel lança “Thor 2 - O Mundo Sombrio”. A sequência de “Os Vingadores” deve estrear nos cinemas apenas em 2015.
Trailer de Homem de Ferro 3 Aqui.
Críticas que já estão na rede:
Omelete.
Matéria publicada na revista Valeparaibano do mês de abril.2013

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Capas e matérias da série OSCAR 2013 do Viver&

Matéria de 24 de fevereiro do O VALE aqui.
No blog aqui.
Matéria de 23 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 22 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 21 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 20 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 19 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 17 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 16 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 15 de fevereiro do O VALE aqui.
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Matéria de 14 de fevereiro do O VALE aqui.
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É HOJE!!!!! - Um ano para errar todos os pitacos

Sem unanimidades, surpresas podem apimentar festa
10 metros de largura e 150 metros de comprimento, o conhecido tapete vermelho chegou a Hollywood Boulevard na quinta-feira e foi colocado em seu devido lugar, o antigo Teatro Kodak, que hoje se chama Teatro Dolby.
Com nove filmes indicados na categoria Melhor Filme, o Oscar 2013 possui algumas curiosidades. “O Lado Bom da Vida”, por exemplo, é o único filme da edição com chances de conquistar o “Big Five”, as estatuetas de Melhor Ator, Atriz, Diretor e Roteirista. Além disso, é o primeiro em 30 anos a ser indicado nas quatro categorias de atuação.
Favoritismo. “Argo”, longa de Ben Affleck, é indicado em sete categorias, incluindo Melhor Filme, e é o favorito ao principal prêmio da noite. Também concorre na categoria Melhor Filme “As Aventuras de Pi”, que deve levar o Oscar de Melhor Fotografia e concorre ainda em outras 10 categorias. O filme custou U$ 120 milhões (R$ 240 mi) e já está entre as grandes arrecadações da história do cinema mundial, com US$ 576 milhões (R$ 1 bi).
Steven Spielberg também disputa as principais estatuetas com o longa “Lincoln”, estrelado por Daniel Day-Lewis, favorito ao Oscar de Melhor Ator e que, se receber o prêmio, será o primeiro na história a conquistar três vezes a principal categoria de atuação. “Lincoln” é o filme com mais indicações dessa edição, somando 12 possíveis estatuetas. Também na disputa por Melhor Ator está Hugh Jackman por seu ex-presidiário que busca a redenção em “Os Miseráveis”. Jackman está impecável em sua atuação e, se levar o prêmio, será o primeiro a recebê-lo por um musical desde 1964, quando Rex Harrison fez “Minha Bela Dama”.
Quentin Tarantino tem de novo o seu pupilo Christoph Waltz concorrendo ao prêmio de Ator Coadjuvante por sua atuação em “Django Livre”. O longa, que foi indicado em cinco categorias, provavelmente não levará nenhum prêmio hoje. A única categoria em que realmente pode levar a estatueta é a da indicação de Waltz.
Conhecida por ter desbancado o ex-marido James Cameron e levado os principais prêmios da Academia em 2010 com “Guerra ao Terror”, a diretora Kathryn Bigelow volta à disputa com “A Hora Mais Escura”, um novo filme com trama de guerra indicado em cinco categorias, e que tem boas chances de receber Roteiro Original e Melhor Atriz.
Surpresa. Ainda assim, uma pequena jovem tem chamado todos os holofotes para si. Quvenzhané Wallis é a mais nova mulher indicada na categoria Melhor Atriz da história do Oscar. Com apenas nove anos, ela carregou a história de “Indomável Sonhadora” nas costas e merece o prêmio. Entretanto, é improvável que a Academia o entregue a ela exatamente por ser muito nova.
O longa independente que furou o cerco comercial de Hollywood também recebeu outras três importantes indicações: Melhor Filme, Diretor (para o estreante Benh Zeitlin) e Roteiro Adaptado. E, sim, tem chance nas três.
Finalizando as indicações a Melhor Filme, há um drama francês de causar incômodo que foi considerado por muitos o melhor filme do ano. “Amor”, de Michael Haneke, concorre a outras quatro estatuetas, incluindo Diretor, Melhor Atriz e Roteiro Original, sendo a última categoria uma grande possibilidade.
Edição cheia de peculiaridades
Mesmo com menos indicações que “Lincoln”, “Argo”, filme do ator e diretor Ben Afleck, é o favorito a Melhor Filme da noite.
Se levar a estatueta, o longa vai entrar para a história como a quarta produção a receber o prêmio sem concorrer na categoria Melhor Diretor.
Quando a lista de indicados foi anunciada, no início de janeiro, a ausência do nome de Ben Affleck entre os concorrentes a Melhor Diretor gerou discussões e opiniões diversas em Hollywood, já que ele venceu prêmios como o Globo de Ouro, o Bafta e o do Sindicato dos Diretores exatamente na categoria de direção.
Outros. Além de “Argo”, outros três diretores que concorrem na categoria Melhor Filme não foram indicados para Melhor Direção. São eles: Kathryn Bigelow, por “A Hora Mais Escura”, Tom Hooper, pelo drama musical “Os Miseráveis” e Quentin Tarantino, por “Django Livre”.
Particularidades. Nesta edição, também estão reunidas a atriz mais jovem e a mais velha a concorrerem na categoria Melhor Atriz. Emannuele Riva, que completa 86 anos hoje (dia da premiação) e Quvenzhane Wallis, que possui 9 anos.
Seth MacFarlane, que será o apresentador do Oscar 2013, também é um dos concorrentes. Ele foi indicado na categoria Melhor Canção Original por “Everybody Needs a Best Friend”, da trilha de seu filme de estreia, “Ted”. Antes dele, apenas duas pessoas competiram no mesmo ano em que atuavam como apresentadores: Paul Hogan, como Roteirista por “Crocodilo Dundee”, em 1987, e James Franco, como ator por “127 Horas”, em 2011
Clique paraver a lista de indicados.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

OSCAR - Para fazer adulto chorar

Em 'Indomável Sonhadora', a atriz mais jovem a concorrer ao Oscar carrega o filme inteiro nas costas -e não decepciona
Quando a cena fecha um close up no rosto da jovem atriz Quvenzhané Wallis, com seus cabelos espetados, a sensação que dá é de que a câmera está trabalhando para ela, e não o contrário. A distorção quando o mesmo close é feito na menina de vestido azul e cabelos obrigatoriamente ‘domados’ no abrigo é de abrir um buraco no estômago. Wallis sabia perfeitamente o que estava fazendo.
Você nunca viu nada como “Indomável Sonhadora”, filme do diretor estreante Benh Zeitlin que concorre a quatro Oscars, incluindo Melhor Filme, Diretor e Melhor Atriz para Quvenzhané Wallis, a mais jovem indicada ao prêmio da história, com apenas nove anos.
Na história, Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) é uma menina de apenas 6 anos que vive com o pai doente em uma comunidade miserável isolada às margens de um rio na Louisiana. Alcoólatra e explosivo, ele se recusa a procurar ajuda médica. Sempre preparados para a ‘Banheira’ – que é como chamam a comunidade — sumir sob a água, pai e filha acabam vivendo entre barracos e o barco improvisado na caçamba de uma caminhonete.
Ao som de folk, com ares de documentário e câmeras de mão, o longa surpreende logo na primeira cena, quando a voz da jovem narradora começa a expressar pensamentos. Diferente do que Hollywood costuma fazer com suas crianças prodígio, “Indomável Sonhadora” é um filme construído completamente pela perspectiva de Hushpuppy e por isso é tão encantador.
“Na Banheira tinha mais férias que no mundo inteiro”, diz a garota no prólogo, e a frase simboliza toda a forma de vida da comunidade. O povo, esquecido pelo governo e pelas pessoas da cidade (que construíram uma barragem separando os dois mundos), vive de forma primitiva, comendo o que a natureza oferece. Os dias na Banheira são sempre dias de festa, mesmo se alguém morrer, já que “na Banheira é proibido chorar”. Não há emprego com hora marcada, não há patrão, não há regras. Só sobreviver.
Com título original parecido com “Bestas do Sul Selvagem”, a tradução brasileira tentou focar o imaginário infantil cheio de sonhos da pequena Hushpuppy e errou de primeira. O filme não trata de sonhos, mas de uma vivência que chega a ser folclórica dos personagens, que creem na existência de criaturas mitológicas que vão ressurgir com o derretimento das geleiras, os aurogues.
A realidade dura da comunidade pelos olhos da garota não tem nada de sonhador ou sentimental. Hushpuppy precisa cuidar do pai, que o tempo todo lhe ensina o quanto a vida é cruel.
Wallis. Zeitlin encontrou em Quvenzhané Wallis o tom perfeito para seu filme. O diretor foi extremamente ousado ao apostar o peso de toda a produção nas costas da garota. No entanto, ela, como em uma cena do filme, abriu o peito, mostrou os músculos e disse: “Eu sou o homem aqui”. E como gente grande, o fez.
O longa fez lembrar o estilo de filme do diretor Terrence Malick (“A Árvore da Vida”) e também “Onde Vivem Os Monstros”, mas ainda assim é uma obra única. Digna, mesmo que com pouca possibilidade, de Melhor Filme, e forte candidata a Roteiro Adaptado e, sim, a Melhor Atriz, mesmo que seja improvável a Academia premiar uma criança, o que seria impreterivelmente merecido.
Ficha:
Indomável Sonhadora Diretor: Benh Zeitlin
Indicações: 3 Oscar
Avaliação: Excelente Chances de receber Melhor Atriz e Roteiro Adaptado
Assista ao trailer aqui.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

OSCAR - ‘Ao ver o corpo, ela chorou’

A Hora Mais Escura, indicado a cinco Oscars, concentra numa mulher sentimentos dos EUA por Bin Laden

Uma tela preta e sons, diversos sons. Do outro lado da linha, alguém atente ao telefone. Uma jovem diz que algo aconteceu, que não consegue ver nada, está muito calor. A atendente pede calma e afirma que o resgate chegará logo. Ela insiste sobre o calor, pede socorro e, em certo momento, as palavras cessam.
O espectador sabe, mesmo no escuro, que aquela voz perturbadora é de alguém que acabou de morrer no World Trade Center e que o dia é 11 de setembro de 2001.
“A Hora Mais Escura”, filme da premiada diretora Kathryn Bigelow e indicado a cinco Oscars, retoma a história dos ataques terroristas sofridos pelos EUA naquele 11 de setembro e que deram início à uma época de medo e paranoia do povo americano em relação ao inimigo, onde todos os esforços foram realizados na busca pelo líder da Al Qaeda, Osama bin Laden.
Nesse contexto, Maya (Jessica Chastain) é uma agente da CIA que está por trás da captura de Laden. Ela participa efetivamente da operação que levou militares americanos a invadir o território paquistanês, com o objetivo de capturar e matar Bin Laden.
Trama. Em “A Hora Mais Escura”, Bigelow retoma o assunto de “Guerra ao Terror” (que levou o prêmio de Melhor Filme em 2010, além de outras cinco estatuetas) por um outro ângulo. Enquanto ela focava o ‘mãos a obra’ da guerra no seu longa anterior, com um protagonista que trabalha desarmando bombas, neste filme ela resume a luta para encontrar um homem nos computadores -- e torturas pouco forçadas.
O longa gera a reflexão do cominho que a tecnologia está seguindo e questiona: se uma guerra pode ser feita por computadores, de que forma saberemos que ela acontece?
Em “A Hora Mais Escura”, a violência fica quase toda na cabeça do espectador. Você vê o rosto machucado do torturado, mas não vê o soco sendo desferido. Nesse ponto, a diretora soube magistralmente equilibrar o seu objetivo e a trama, que precisava mostrar os conhecidos “interrogatórios reforçados”, mas não queria que fosse essa a lembrança mais marcante.
Dessa forma, Bigelow mantém uma inteligência fria durante todo o longa, fazendo os próprios torturadores parecerem apenas funcionários realizando com normalidade um serviço pelo qual foram designados.
Maya. “A agente da CIA que havia passado os últimos cinco anos tentando encontrar Bin Laden aguardava a chegada da tropa. Ao ver o morto, ela chorou”, escreveu Mark Owen no livro “Não Há Dia Fácil”.
Indicada a Melhor Atriz, Jessica é Maya, a tal agente da CIA responsável por encontrar o terrorista. Ela carrega todo o sentimento do país dentro de si e o faz de forma contida, mas que torna as reações, as frustrações e a evolução do personagem perceptíveis.
O filme é longo e cansativo se quem o assistir não se informar anteriormente, mas tem grandes chances de receber Melhor Roteiro Original, Melhor Filme e Melhor Atriz.
Ficha
A Hora mais Escura
EUA, 2012
Diretor: Kathryn Bigelow
Indicações: 5 Oscar
Avaliação: Ótimo
Chances de receber Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz
Trailer aqui.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

OSCAR - Redenção em forma de melodia

Indicado a oito Oscar, 'Os Miseráveis' é um deleite para os olhos e um teste de resistência aos ouvidos
Certa vez, Ruy Castro escreveu uma opinião interessante sobre musicais.
O jornalista citou pessoas que criticam o alto grau de profissionalismo dos cantores que fazem os filmes parecerem irreais soltando a voz no meio da rua, sendo acompanhados por outros que se contagiaram, passarinhos que assoviam no ritmo da melodia e mendigos dançarinos que, no fundo, saíram da academia Bolshoi.
Quanto a isso, o escritor deu seu sermão ríspido, respondendo: “É assim porque é um musical”. E no quesito musical, o longa “Os Miseráveis”, indicado a oito Oscars, é o cúmulo do cantante.
O filme é uma adaptação da Broadway, que por sua vez foi inspirada na clássica obra do escritor Victor Hugo. A história se passa em plena Revolução Francesa do século 19. Jean Valjean (Hugh Jackman) é um presidiário liberto que resolve fugir das obrigações da condicional e começar uma nova vida de redenção, mas é incansavelmente perseguido pelo inspetor Javert (Russell Crowe), um homem que acredita na lei acima de tudo.
Provavelmente cansado dos 119 minutos de gagueira de George 6º em “O Discurso do Rei”, vencedor de quatro Oscars em 2011, o diretor Tom Hooper resolveu que as palavras não seriam mais seu problema e transformou praticamente todas as falas de “Os Miseráveis” em música.
Atuações. Em “Os Miseráveis”, atores que não são profissionais em canto soltam o gogó ao vivo, sem gravações externas em estúdio, e transformam a trama em uma melodia dramática eterna. E põe eterna nisso: o filme tem quase 2h40 de cantoria sem fim.
Ainda assim, a força física do longa é impressionante. Dividido em três atos, temos um Jean Valjean fugitivo, um segundo Valjean que recupera o fôlego da vida com a família, e um terceiro Valjean em seus últimos instantes de vida, após um breve tempo de paz. E, no meio de três épocas distintas, o espectador vê o ator Hugh Jackman no momento mais amadurecido de sua carreira.
Anne Hathaway está praticamente com as mãos coladas à estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante por seu solo em close up de “I Dreamed a Dream”. Russell Crowe parece um tanto desconfortável no papel de Javert, mas ainda assim faz uma bela performance.
Destaque para o casal de picaretas Madame e Monsieur Thénardier, que dão humor e ritmo ao ‘longo longa’ em diversos momentos com a interpretação sempre marcante de Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen. Já o par romântico Cosette e Marius, mesmo contando com a voz perfeita de Amanda Seyfried, não vingou.
Um show infantil a parte também ficou a cargo de Daniel Huttlestone como Gavroche, o garoto que recolhe balas entre os móveis das barricadas da Revolução.
Com um elenco de não cantores tão bem afinado –- mesmo que desafinado em algumas notas --, Hooper transformou a miséria em espetáculo a ponto das cenas ficarem belas e ricas, por mais sujas que estejam.
Por fim, temos um filme de cenários e figurinos belíssimos, classudo e pesado, com direito a interpretações memoráveis e uma overdose musical de dar vontade de não ouvir nada por dias após os créditos finais. Enfim, o espectador deve ver o longa com o espírito de quem vai a uma ópera.
Chances. “Os Miseráveis” é digno de receber Melhor Filme, mas não deve levar: para ser bom não se pode ser cansativo demais. Ainda assim, a aposta é alta para Melhor Figurino e Mixagem de Som (já que não deve ter sido fácil juntar todas as vozes gravadas durante as cenas e encaixar a melodia). Hugh Jackman provavelmente vai estar em um páreo duro contra Daniel Day-Lewis (“Lincoln”) para Melhor Ator.
Ficha
Os Miseráveis, Reino Unido, 2012 Diretor: Tom Hooper
Indicações: 8 Oscar
Avaliação: Excelente.
Forte candidato aos prêmios de Melhor Ator e Melhor Figurino
Trailer aqui.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

OSCAR - Ele dirá: ‘Argo Fuck Yourself’

Se eleito melhor filme, Ben Affleck pronunciará o jargão de Argo com a boca cheia aos outros candidatos
O mundo está momentaneamente apaixonado por Ben Affleck -- mesmo sem ser o mocinho que surgiu nas telonas como par romântico de Liv Tyler --, e não é por menos. Affleck conseguiu com “Argo”, filme em que é diretor e foi indicado a sete Oscars, provar que tem credibilidade para estar entre os grandes.
No longa, o Irã está em ebulição em 1979, com Khomeini chegando ao poder. Protestos contra americanos em Teerã são comuns, já que o país deu asilo político ao antigo governante.
A embaixada dos EUA acaba invadida e seis diplomatas americanos conseguem escapar, indo se refugiar na casa do embaixador canadense. A melhor opção para resgatá-los é apresentada por Tony Mendez (Ben Affleck), que sugere a produção de um falso filme no Irã para que os diplomatas consigam fugir como parte da equipe. O nome do filme? Argo. E este é, sem dúvida, um dos melhores filmes dessa ‘safra’.
Logo nos primeiros minutos, o espectador se prende à trama e não consegue se desvencilhar. “Argo” é uma perfeita reconstrução da década de 1970 desde o ritmo do filme, que segue um estilo clássico, sem influência pop, até nos detalhes da direção de arte.
Experiência.Com um Ben Affleck amadurecido que poderia dar a si o papel de herói supremo da história, mas que prefere se conter em um personagem importante, que é mais responsável por tecer a continuidade do que pela emoção, o diretor encontrou em “Argo” a melhor execução de sua carreira até o momento.
Ao fazer um filme político que escolhe mostrar o lado estadunidense, mas não esquece de reforçar as intervenções americanas no Irã, Affleck provou não ter medo de encarar o governo e se apropriou de uma história real para mostrar sua paixão pela indústria cinematográfica e refletir essa paixão em uma obra-prima de ação, suspense e comédia -- o que, diga-se de passagem, não é algo fácil de equilibrar.
Há ainda o melhor do estilo ‘filme dentro do filme’ e, para completar, Affleck presenteia o espectador com uma desesperada cena final, digna de clássico dramático com a mesma sensação de tirar o fôlego do carrinho de bebê na escadaria de “Os Intocáveis” (1987).
Argo”, com um conjunto marcante, mas sem destaques isolados, é favorito na categoria Melhor Filme e, talvez, Roteiro Adaptado.
Ficha
Argo
EUA, 2012
Diretor: Ben Affleck
Indicações: 7 Oscars
Avaliação: Excelente Forte candidato aos prêmios de Melhor Filme e Roteiro Adaptado
Trailer Aqui.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

OSCAR : Ele faz a história

Tarantino reforça seu cinema em 'Djando' e, com cinco indicações, prova que não precisa ser realista para ser grande
Alguns diretores conseguiram, além de emoldurar as mãos na calçada da fama, assinar seus nomes na história do cinema. Fixado junto a Hitchcock, Scorcese e Kubrick na lista de célebres reforçadores de personalidade, atualmente o diretor hollywoodiano com a assinatura mais original é Quentin Tarantino.
Seus longas são carregados de humor, violência, trilha sonora marcante, diálogos longos e inteligentes, misturam o cult com o popular e possuem um sangue tão característico que chega a ser citado, por vezes, como “vermelho à la Tarantino”.
Dessa forma, os fãs que foram aos cinemas em janeiro assistir a “Django Livre”, indicado a cinco Oscars, não tiveram do que se decepcionar. Mesmo assim, o longa provavelmente desperte mais amor em quem segue o diretor do que nos jurados da Academia no domingo.
No filme, Django (Jamie Foxx) é um escravo liberto pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz). Schultz está em busca de alguns assassinos que apenas Django reconheceria e, por isso, os dois iniciam uma parceria. No entanto, tudo o que o ex-escravo quer é libertar sua esposa, e Schultz promete ajudá-lo. A busca por Broohmilda os leva a Candyland, a fazenda do rico Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) que usa escravos para lutar e ganhar dinheiro -- e que é dono da esposa de Django.
Histórico. Tarantino tem, fora as características de estilo já citadas e que são permanentes, um foco que de tempos em tempos muda. Em “Pulp Fiction, Tempos de violência” (1994) e “Cães de Aluguel” (1992), por exemplo, o diretor se preocupou em testar todas as possibilidades que o cinema -- falando em estrutura -- lhe permitia.
O alvo era a experimentação, não a história, por mais que instigasse a reflexão. Em “Kill Bill”, vol. 1 (2003) e 2 (2004), o diretor apresentou a sua paixão pelas mulheres e pelos artifícios estilísticos do cinema, enquanto também demonstrava preocupação com a narrativa. Com “Kill Bill”, ele descobriu a vingança e a transformou em seu melhor filme, que ele mesmo sabia o ser ao adicionar a frase final de Brad Pitt ao roteiro de “Bastardos Inglórios” (2009), quando diz: “Acho que esta é minha obra-prima”.
“Django” é uma evolução do cinema de Tarantino. É repleto de referências ao faroeste spaghetti que o diretor tanto adora, com um refinamento plástico de deixar a dancinha clássica do Mr. Blonde sem graça. Mas é, também, um mais do mesmo de “Bastardos Inglórios” e não deve levar prêmios.
Negativo. O filme é muito longo e, ao contrário de “Bastardos” -- que gera tensão com o tempo estendido das cenas --, “Django Livre” não causa a mesma impressão. O longa possui tantos personagens complexos com histórias e interpretações interessantes que o espectador se confunde com quem é o protagonista, o que acaba dando menos força ao foco da trama, o escravo Django.
Até pouco mais da metade do longa-metragem, o que se vê é um filme completamente construído em torno do ator Christoph Waltz, que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pela interpretação do Coronel Hans Landa de “Bastardos Inglórios” em 2010 e, junto com a estatueta, virou o ‘menino dos olhos’ de Quentin Tarantino, recebendo uma nova indicação na mesma categoria por Schultz, neste ano.
Já a reconstrução da própria história ‘à la Tarantino’ é algo que os fãs adoram, mas que a Academia não costuma premiar. “Bastardos”, mesmo sendo a obra-prima do diretor, mudou o final real da história e assassinou Hitler e diversos nazistas em um incêndio dentro de um cinema.
O longa recebeu sete indicações ao Oscar, mas só levou o de Ator Coadjuvante, reforçando que os jurados se interessam por ficções, mas ainda preferem histórias que pareçam mais realistas.
Fugir completamente do final original da história e ainda assim se tornar um filme consagrado foi algo que mostrou a força de Tarantino, que agora simplesmente pode filmar o que desejar. Por esse motivo, em “Django”, ele fez questão de mostrar o quão ‘não realista’ queria ser nas cenas finais de batalha, quando cabeças explodem ao som de bolhas estourando.
Positivo. O filme de Tarantino é um forte candidato a levar a estatueta de Ator Coadjuvante novamente, com Christoph Waltz, mas ele vai disputar com Robert de Niro, e a briga vai ser boa. “Django” não deve levar Melhor Filme e nem outras categorias -- há uma pequena chance em Edição de Som.
Ficha:
Django Livre
EUA, 2012
Diretor: Quentin Tarantino
Indicações: 5 Oscars
Avaliação: Ótimo Forte candidato ao prêmio de Ator Coadjuvante
Veja trailer aqui.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

OSCAR: Um amor com os pés no chão

Longa francês indicadoa cinco estatuetas é um soco de realidade com um romance de fazer chorar
Se na partitura pausa também é música, no cinema silêncio é trilha sonora. E, nesse quesito, “Amor”, indicado a cinco Oscars -- entre eles Melhor Filme, Diretor e Melhor Filme Estrangeiro --, deveria ter sido indicado também na categoria.
Produção francesa do austríaco Michael Haneke (“A Fita branca”, “Violência Gratuita”), o longa tem como foco a vida de um casal de idosos. Certo dia, a mulher sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. Eles, então, precisam passar por graves obstáculos que colocam o seu relacionamento em teste.
Fica mais fácil imaginar a trama de “Amor” se compará-lo ao romance água com açúcar “Diário de Uma Paixão”. Tire todas as declarações e reencontros românticos de perder o fôlego e o que sobra? Uma doença devastadora e a luta de um marido dedicado e amoroso. Pronto, esse é o longa de Haneke.
O diretor é conhecido por filmes duros e realistas, o que, mesmo tentando muito, não conseguiu manter neste longa. “Amor” é sim uma história com tons reais, mas está repleta de sentimento. Logo no início do filme, quando o espectador se encontra olhando o público de um teatro a encará-lo, Haneke antecipa suas intenções. É como se quem assiste fosse visto pelos atores, provando que a história pode ser de qualquer um. Esta, aliás, também é uma das poucas cenas onde há música, já que a história é contada pelo silêncio.
Vazio. Com duas horas de duração, o filme acontece lento entre as quatro paredes do confortável apartamento de Anne e George, reforçando, nesse cenário reduzido, a relação dos dois. Planos com cômodos sem vida, mas bem decorados, ressaltam a solidão do casal, que se basta. Uma pomba que entra pela janela diversas vezes, como faria em prédios abandonados, reforça o vazio.
Contudo, o filme é uma história de amor arrebatadora, de luta pela dignidade de quem se ama, de aceitação e comprometimento. O espectador, que sabe desde o início o desfecho do longa, recebe o final como um golpe no estômago e ainda assim sorri. E Haneke atinge seu objetivo: a reflexão.
“Amor” tem grandes chances como Melhor Filme Estrangeiro e, por isso, provavelmente não receberá a estatueta de Melhor Filme. Ainda assim, o longa é uma boa aposta para os prêmios de Melhor Diretor e um merecido Melhor Atriz para Emmanuelle Riva.
Ficha Amor (original Amour)
França, 2012
Diretor: Michael Haneke
Indicações: 5 Oscars
Avaliação: Excelente
Chances de receber a estátua de Melhor Filme Estrangeiro, Diretor e Atriz

sábado, 16 de fevereiro de 2013

OSCAR - As Aventuras de Pi: Ang Lee aprimorou a obra divina

Filme indicado a 11 estatuetas consegue, graças aos recursos digitais, fazer o espectador enxergar a divindade.
Não é de hoje que diretores e atores indianos têm conseguido fãs no mundo cinematográfico, mas nunca um livro sobre a cultura asiática sofreu tantas tentativas de adaptação para Hollywood como “A Vida de Pi”, de Yann Martel. E as empreitadas, antes infundadas, para transformar em filme a história, foram agraciadas por uma obra que dependia do tempo e da tecnologia -- hoje disponíveis no cinema -- para acontecer. O resultado foi “As Aventuras de Pi”, filme indicado a 11 Oscars.
O longa retrata a história de Pi Patel, o filho do dono de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia. Após anos cuidando do negócio, a família decide vender o empreendimento e se mudar para o Canadá. Para isso, vende todos os animais.Entretanto, o cargueiro onde viajam com algumas espécies acaba naufragando devido a uma terrível tempestade. Pi consegue sobreviver em um bote salva-vidas, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengalas.
Adaptar uma história que acontece dentro do mar envolvendo um jovem, um tigre de bengalas e um bote parece loucura, mas o diretor Ang Lee o fez -- e fez com maestria.
Se no livro de Martel a proposta é apresentar um relato que fará quem escuta acreditar em Deus, o diretor conseguiu no filme, graças aos recursos digitais, fazer o espectador enxergar a divindade.
Detalhes. A trama, narrada por um Pi Patel já adulto, não tem grandes mudanças de enredo. Logo no início do filme já se sabe que o garoto náufrago consegue se salvar, ou, de outra forma, como ele poderia contar o que passou? Mas é exatamente aí que o trabalho minucioso de Ang Lee entra.
Não é no início ou no fim, mas sim no meio da história, no que acontece do momento em que Pi entra no cargueiro até a hora que encontra terra firme, ou seja, os 227 dias que passou em alto mar na companhia de Richard Parker, o tigre. E o roteiro foi tão bem adaptado que até a descoberta surpreendente do espectador/leitor de que Richard Parker é um animal é mantida. Até este momento, tudo indica, pelo carinho e proximidade com que Pi trata Parker, que é um ser humano.
Os detalhes da trajetória delicada de Pi foram amplamente explorados pelo roteirista David Magee, que fez questão de mostrar lentamente as dificuldades e o definhamento do personagem em alto mar, revezando o momento com lembranças e histórias que funcionam como a muleta que faz a composição andar.
Ang Lee completa a obra com um retrato preciso do que foi descrito e adiciona o toque tecnológico que resultou em uma das fotografias mais belas da história da sétima arte, relembrando o que foi o burburinho gerado pelo revolucionário “Avatar”, de James Cameron, em 2010.
Positivo. Além dos efeitos, o filme, que deixa o final aberto para a conclusão ser tirada pelo espectador, faz o tom fictício da trama se tornar compreensível ao ser visto do ponto de vista psicológico de um garoto que precisa sobreviver, apesar das condições. Os jurados da Academia gostam desse tipo de filme.
Foi a linha entre real e imaginário a responsável pelas seis indicações ao Oscar que o longa “O labirinto do Fauno”, do mexicano Guillermo del Toro, recebeu em 2007 e, das seis, ele levou três.
Por isso, “As Aventuras de Pi” é candidato favorito ao prêmio de Melhor Fotografia, mas pode ainda levar Roteiro Adaptado e Efeitos Visuais. O título de Melhor Filme, se analisado o passado da Academia, não será entregue a ele, já que produções realistas são preferidas nessa categoria.
Ficha: As Aventuras de Pi
EUA, 2012
Diretor: Ang Lee
Indicações: 11 Oscars
Avaliação: Excelente
Favorito ao prêmio de Melhor Fotografia

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

OSCAR - Lincoln: sem excessos e emoção

Filme de Spielberg deixa de lado produção estratosférica e se destaca ao discutir política
O cinema, inicialmente, era classificado apenas como ferramenta de entretenimento, sem profundidade e direção a ser seguida. Hoje, mais de 90% do que encontramos nas salas de exibição continuam sendo fiel à antiga classificação, mas ainda assim existe um contingente de cineastas que percebeu na sétima arte uma forma de questionar e ensinar a sociedade, saindo do perímetro de entretenimento e atingindo um outro patamar, seja social ou histórico.
É esse patamar que Steven Spielberg alcançou com “Lincoln”, indicado a 12 estatuetas no Oscar deste ano.
“Lincoln” foi baseado no livro “Team of Rivals: The Genius of Abraham Lincoln”, de Doris Kearns Goodwin, e se passa durante a Guerra Civil norte-americana. Ao mesmo tempo em que se preocupava com o conflito, o 16º presidente norte-americano, Abraham Lincoln (interpretado por Daniel Day-Lewis), trava uma batalha pessoal em Washington. Ao lado de seus colegas de partido, ele tenta aprovar uma emenda à Constituição dos Estados Unidos da América que abolirá a escravidão.
Brasil. O filme foi aclamado por tabloides dos quatro cantos dos EUA, mas não foi tão bem recebido no Brasil por motivos óbvios. “Lincoln” é uma produção norte-americana para norte-americanos, é uma reflexão política do país e encanta quem entende e se interessa pelo assunto, mas não consegue entreter.
A cena inicial é uma batalha ao estilo “O Resgate do Soldado Ryan” que deixou vários fãs com a expectativa a mil. Mas ao invés de seguir o ritmo que fez o diretor levar cinco estatuetas para casa em 1999, Spielberg preferiu cortar a guerra ao meio e logo no diálogo que sucede a cena ele mostrou a que veio.
“Lincoln” é um filme controlado que propõe retratar a trajetória política e pessoal de um dos maiores presidentes do EUA. Excessos e tentações cinematográficas ficaram fora da produção.
Isso, aliado à distância da história dos EUA com a do Brasil, faz de “Lincoln” um filme cansativo aos olhos tupiniquins, uma produção que causa emoção apenas na cena em que o congresso vota a tal emenda que acaba com a escravidão proposta pelo presidente. Essa, sim, é uma cena digna da grandiosidade e do que se espera do nada comedido Spielberg.
Positivo. Alheio à cena, o filme é baseado em alguns ótimos diálogos (como a conversa inicial entre soldados negros e Lincoln, quando é recitado parte de um dos mais marcantes discursos do presidente) e na ousadia de Spielberg em mostrar que até um dos governantes mais queridos da história pode se envolver com corrupção.
Mas, principalmente, “Lincoln” é baseado na excelente interpretação dos atores envolvidos. Daniel Day-Lewis já deixou de ser uma promessa promissora do cinema para sentar-se ao lado dos grandes e, neste longa, ele veste a carcaça do presidente americano como se ela já pertencesse a ele há anos, com uma naturalidade de encantar.
Vendo Lincoln assim, como propôs Spielberg e como abraçou Lewis, o grande homem -- literalmente -- parece mais original do que aquele impresso nos dólares americanos. Vale dar créditos também a Tommy Lee Jones, que deixa seu perfil humorístico de lado para roubar a cena em diversos momentos do longa.
“Lincoln” é claramente um filme com ‘cara de Oscar’: classudo, grandioso. E, por isso, tem muitas chances de receber estatuetas, até porque a Academia e o prêmio são americanos e estão inseridos naquela realidade. A aposta é principalmente e irrevogavelmente no prêmio de Melhor Ator (Daniel Day-Lewis), sendo seguida pelos possíveis Figurino e Direção. Mas, ainda assim, Spielberg segurou tanto a mão que pecou na falta de emoção, o que pode não dar ao longa o prêmio de Melhor Filme.
FICHA: Lincoln
EUA, 2012
Diretor: Steven Spielberg
Indicações: 12 Oscars
Avaliação: Bom
O filme tem grandes chances de levar o prêmio de ‘Melhor Ator’ (Daniel Day-Lewis)
Veja o trailer aqui.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

OSCAR - O lado bom de ser simples

Se preparando para o Oscar?? O Cine Rosebud traz um especial por dia da lista de Melhores Filmes. Confira.
Ele tem problemas, ela tem problemas. Mas quem não tem? Ele a acompanha até em casa após um jantar de amigos, e ela o convida para fazer sexo. Ele nega, ela se incomoda, os dois não se dão. E começa então uma história de amor. Essa poderia ser a sinopse de qualquer comédia romântica hollywoodiana e é exatamente assim que “O Lado Bom da Vida”, filme indicado a oito Oscars, deve ser classificado. Mas, então, o que tem esse roteiro específico que o qualifica a tantas indicações? Nada. Mas, ele tem bons atores. O longa conta a história de Pat (Bradley Cooper) a partir do dia que ele sai do sanatório onde esteve durante oito meses. Pat espancou um homem quase até a morte ao vê-lo com sua mulher. Obcecado pela ideia de retomar sua vida, ele tenta viver uma rotina normal até que conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher também problemática que oferece ajuda em troca de ele formar com ela um casal em um concurso de dança.
Positivo. Em “O Lado Bom da Vida”, Cooper mostra que não é apenas um rosto bonito que faz piadas em “Se Beber Não Case”, enquanto Lawrence tem sido apontada como a nova queridinha da Academia. É bom adiantar que o estardalhaço em torno da moça não faz jus ao personagem, que é muito bem interpretado, mas não excede o comum.
Aliás, o longa é composto de histórias e pessoas comuns, sendo a simplicidade o que o torna tão realista e interessante. Os problemas que cada um carrega fazem o espectador se identificar com personagens que seguem suas vidas apesar do passado, dos vícios, medos e de uma sociedade taxativa. E é durante uma rotineira discussão, uma briga em um jogo de futebol ou na comemoração por uma nota ruim de dança, que o espectador enxerga as tais boas coisas de que o filme fala. “É só estar atento aos sinais”, diria Tiffany.
Negativo. Mesmo com a interpretação emblemática que há muito não se via de Robert de Niro como pai de Pat e as aparições sempre divertidas e incomuns -- por não serem escrachadas -- de Chris Tucker, o filme não tem grandes chances no Oscar como Melhor Filme ou como qualquer uma das outras categorias. Mas vale a chance de, quem sabe, se surpreender no dia 24 apostando em um longa que pode não ganhar os prêmios, mas vai render duas horas de uma boa sessão terapêutica de cinema com pipoca.
Ficha:
O Lado Bom da Vida
Diretor:David O. Russell
Indicações:8 Oscars
Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert de Niro
Avaliação: Ótimo. Sem grandes chances de premiação, talvez ator coadjuvante (De Niro)
Trailer aqui.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sem rebobinar

Conheça as transformações físicas e conceituais no cinema desde o início do século passado
No museu das palavras que caíram em desuso, uma antiga companheira dos cinéfilos foi completamente esquecida pela sociedade. Tanto foi que quem nasceu no início da década de 1990 pouco lembra dela, e quem nasceu no fim dos 1990 desconhece completamente.
Nos anos de 1980, um sistema de reprodução de áudio e vídeo revolucionou o vídeo caseiro. Era uma fita magnética dentro de uma caixa plástica que permitia que os mesmos filmes exibidos no cinema pudessem ser vistos no conforto do sofá de casa.
O VHS nunca foi um objeto prático. Com a mesma artimanha trabalhosa dos grandes projetores de cinema -- mas em tamanho reduzido --, o filme revelado nele era lido pelo aparelho e reproduzido na tela.
Ao fim, era preciso voltar a fita antes de recomeçar a sessão ‘cinema em casa’ e é aí que a palavra esquecida surge. Era preciso ‘rebobinar’.
Foi em 1995 que tudo mudou. A chegada do DVD ao mercado causou uma ruptura que colocou o VHS na lista dos produtos em extinção e ‘rebobinar’ no museu do desuso.
Ir do analógico ao digital foi um salto em qualidade de som, imagem e, principalmente, no controle sobre o conteúdo gravado. Hoje, a fita que só funcionava se não estava sujo o cabeçote se tornou artigo único de colecionador.
Contudo, ao mesmo tempo que o vídeo evoluiu, a forma de fazer cinema se modificou.
Sétima arte. Em 1902, quando os filmes se baseavam em pessoas andando em uma estação de trem, acidentalmente Georges Méliès descobriu que poderia criar efeitos especiais quando sua câmera travava, podendo fazer pessoas e objetos sumirem e reaparecerem. A partir daí, resolveu que não queria mais usar aquele objeto que captava imagens em movimento para reproduzir a rotina das pessoas, mas que queria contar histórias.
Depois disso, a coisa desandou (de forma boa). “King Kong” (1933) mostrou que era possível pequenos bonecos dividirem a cena com pessoas; “Branca de Neve e Os Sete Anões” (1937) trouxe cores tão vivas a um desdenho que diziam poder machucar os olhos; “Cidadão Kane” (1941) redefiniu os ângulos de filmagem; “Casablanca” (1942) mostrou que era possível ser belo sem um final feliz.
Depois, “Uma Cilada Para Roger Habbit” (1988) provou que unir desenho animado a atores reais só era válido se realmente existisse interação; “O Parque Dos Dinossauros” (1993) praticamente inventou o imaginário do período jurássico que temos hoje com personagens digitais completamente realistas; “Toy Story” (1995) deu vida a brinquedos com o uso perfeito da tecnologia CGI; e, finalmente, “O Senhor dos Anéis” (2001/2003) sapateou sobre a forma analógica de fazer cinema reconstruindo completamente um personagem pelo computador.
Contemporâneo. De nada adiantaria toda a evolução do cinema se a reprodução deste não evoluísse em sintonia. Desde 1998, os recursos digitais das produções pedem uma nova tecnologia de reprodução, o Blu-ray, que chegou em 2010 no mercado.
Ao contrário do que aconteceu com o VHS, essa nova tecnologia não surgiu para extinguir o DVD, já que os aparelhos Blu-ray também leem este formato. A alta definição veio somar ao que já existe no mercado e permitir que novas vertentes sejam descobertas.
O 3D já está na casa das pessoas, o 4D, em alguns cinemas. Basta apenas não esquecer que não é só de tecnologia e efeitos especiais que se faz o cinema e lembrar, com Méliès, que o mais importante é contar uma boa história.

sábado, 19 de janeiro de 2013

E a sereia? Nada, nada.

Sem sucesso, Disney cancela relançamento de ‘A Pequena Sereia’ em 3D
Piadas de título à parte, quem é rei nunca perde a majestade, já quem é princesa muitas vezes não recebe o devido valor.
Por essas e outras nesta semana a Disney cancelou o relançamento de “A Pequena Sereia” em 3D nos cinemas em novembro deste ano, para a tristeza dos fãs e para o deleite do rei leão, Simba, que continua no trono.
Em setembro do ano passado a produtora dos desenhos mais assistidos no mundo fez o teste e colocou quase US$100 milhões (R$200mi) no bolso com o relançamento de “O Rei Leão 3D”, filme de 1994 que ainda hoje é um das maiores bilheterias da história do cinema. Se você fosse ao cinema nessa época provavelmente ia encontrar pais e filhos animados, cantando a trilha juntos e unindo diferentes gerações.
Os cifrões que não pararam de cair na conta encheram os olhos da produtora, que tratou logo de desengavetar outros sucessos empoeirados e programar as reestreias. Mas a ideia foi vetada após o baixo rendimento nas bilheterias de “A Bela e a Fera”, “Procurando Nemo” e “Monstros S.A” e a possibilidade da sereia Ariel sair dos confins oceânicos de 1989 e voltar ao auge da superfície foram, desculpe o trocadilho, por água abaixo.
Erro.Se você nem sabia que o seu clássico preferido estaria no cinema, não se sinta um péssimo fã, pois foi exatamente a falta de comunicação entre a obra e o espectador que causou o cancelamento.
Quando “Rei Leão 3D” foi relançado a internet estava repleta de publicidade e notícias sobre o assunto, tanto porque era o primeiro filme a receber o tratamento VIP de rejuvenescimento, quanto porque a Disney investiu nisso, o que não aconteceu com as outras produções. O próprio “Procurando Nemo”, que é ainda hoje uma das animações mais queridas e visivelmente impactantes (pelas cores e movimentos realistas do fundo do mar) chegou despercebido nas telonas e assim ficou, sem cartazes, sem comentários, sem expectativas, sem público.
Futuro. De acordo com os estúdios Disney, os trabalhos com a conversão de “A Pequena Sereia” ao formato tridimensional já haviam começado. Por isso, aos fãs, resta a esperança de que mesmo fora das telonas a obra seja relançada direto em DVD/Bluray além da edição diamante do filme, com lançamento programado para o segundo semestre desse ano.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A assinatura de Tarantino

Em Django, diretor volta a afirmar que é dono de uma classificação única no cinema: o gênero tarantino
Entende-se por gênero cinematográfico uma classificação que permite estabelecer relação de semelhança ou identidade entre diversas obras. Sendo assim, quando for ao cinema hoje assistir a estreia de “Django” e alguém perguntar “é um filme de quê?”, responda, sem pestanejar: o gênero é tarantino -- em letra minúscula, já que é gênero, não nome próprio.
Se encaixam nessa classificação películas cinematográficas correspondentes ao diretor Quentin Tarantino e a produções cheias de violência gratuita, momentos divertidos, trilhas de muito bom gosto, diálogos bem encaixados e que não terminam nunca e referências culturais e de outros filmes do diretor, assim como aparições coadjuvantes dele próprio.
Não é de hoje que Tarantino cria seu próprio gênero cinematográfico, mas é atual a força que sua visível assinatura tem ganhado a cada produção. “Django”, oitavo longa do diretor, não seria diferente. Bom ou ruim, ele está lá, ‘tarantinando’ nos cinemas do Brasil.
Trama. Neste novo longa, o ator Jamie Foxx é Django, um escravo liberto que aceita ajudar o caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz) a encontrar alguns de seus procurados. Mas o que o ex-escravo quer é libertar a esposa e, para isso, conta com a ajuda de Schultz.
Em entrevista, Tarantino afirmou que pretende criar uma “trilogia da vingança” que tem como primeiro filme “Bastardos Inglórios”, seguido por “Django” e, fechando o ciclo, um terceiro longa ainda não definido. Portanto, partindo do princípio que há uma ligação entre os filmes, é possível entender porque eles se parecem tanto mesmo com contextos tão diferentes.
Ao contrário do que diz a própria ficha técnica, “Django” deveria se chamar Schultz, pois Waltz (que venceu o Globo de Ouro pelo papel e concorrerá ao Oscar no dia 24) é o protagonista da história, com um filme todo criado em torno dele. Divertido e com boas sacadas, “Django” atinge o objetivo de entreter, mas não é nem de longe o melhor filme do diretor de “Pulp Fiction”.
Com cenas que poderiam ser cortadas pela metade (como a dos sacos de pano), o filme seria muito mais interessante com até 2h de duração. Se em “Bastardos” a extensão causava suspense, o mesmo não acontece agora.
Aliás, prepare-se para ouvir bolhas estourarem quando crânios explodirem na telona. Dessa vez, Tarantino adotou sons esquisitos para reforçar suas cenas sanguinárias.
Destaque.
O ponto alto do longa é Samuel L. Jackson. O ator interpreta um escravo de confiança do dono da esposa de Django. A atuação e caracterização estão impagáveis. Leonardo di Caprio no papel do patrão de Jackson, aliás, mereceria uma indicação ao Oscar mais que Waltz, que praticamente repete o que fez em “Bastardos”. Uma coisa é certa, Tarantino pode não acertar em todos os filmes, mas sabe escolher atores.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A festa dos não favoritos

Boca livre da sétima arte, o Globo de Ouro segue linha contrária ao maior prêmio do cinema, o Oscar
Ao apresentar o Globo de Ouro 2012, o comediante Ricky Gervais comparou o prêmio ao Oscar com uma analogia um tanto maldosa. Disse que um está para o outro como a socialite Kim Kardashian está para a duquesa Kate Middleton, “mais barulhento, com menos classe e mais fácil de ser comprado”. No entanto, o Globo de Ouro de 2013, realizado na noite de domingo, resolveu encarar o principal prêmio do cinema mundial de peito erguido e dizer: “a estátua é minha e dou a quem quiser.” “Argo”, filme dirigido por Ben Affleck e mal visto por uma parcela da Academia, foi o grande vencedor e a surpresa da noite, levando os principais prêmios (Melhor Filme e Melhor Diretor) e deixando “Lincoln” de Steven Spielberg, o favorito, comendo poeira. “Argo” é uma obra daquelas que se vê e logo diz: “tem potencial para prêmio”. Mas isso inicialmente incomoda jurados de grandes prêmios como o Oscar, que gostam de parecer inovadores em suas escolhas, mas que, no fim, costumam premiar longas que transbordam drama, o que “Argo” não faz e que, consequentemente, caracterizou a produção como superficial para a Academia.
Outros. “O Lado Bom da Vida” e “A Hora Mais Escura”, favoritos ao Oscar junto com “Lincoln”, também foram deixados de lado no Globo de Ouro, que entregou três prêmios ao drama musical “Os Miseráveis” e dois para o western “Django Livre” de Quentin Tarantino. Entre eles, o segundo de Cristoph Waltz como coadjuvante em um filme do diretor. Já dizem as línguas cinematográficas que se o ator receber também o Oscar, Tarantino não o larga nunca mais.
LISTA COMPLETA DE PREMIADOS
MELHOR FILME DRAMÁTICO "Argo"
MELHOR FILME DE COMÉDIA OU MUSICAL "Os Miseráveis"
MELHOR ATOR DRAMÁTICO Daniel Day-Lewis, "Lincoln"
MELHOR ATRIZ DRAMÁTICA Jessica Chastain, "A Hora Mais Escura"
MELHOR ATOR EM COMÉDIA OU MUSICAL Hugh Jackman, "Os Miseráveis"
MELHOR ATRIZ EM COMÉDIA OU MUSICAL Jennifer Lawrence, "O Lado Bom da Vida"
MELHOR DIRETOR Ben Affleck, "Argo"
MELHOR ATOR COADJUVANTE Christoph Waltz, "Django Livre"
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Anne Hathaway, "Os Miseráveis"
MELHOR ROTEIRO Quentin Tarantino, "Django Livre"
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL "Skyfall", de Adele, para o filme "007 - Operação Skyfall"
MELHOR ANIMAÇÃO "Valente"
MELHOR FILME ESTRANGEIRO "Amor"
MELHOR SÉRIE DRAMÁTICA "Homeland"
MELHOR SÉRIE DE COMÉDIA "Girls"
MELHOR ATOR EM SÉRIE DRAMÁTICA Damian Lewis, "Homeland"
MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DRAMÁTICA Claire Danes, "Homeland"
MELHOR ATOR EM SÉRIE DE COMÉDIA Don Cheadle, "House of Lies"
MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DE COMÉDIA Lena Dunham, "Girls"
MELHOR ATOR EM MINISSÉRIE OU FILME PARA A TV Kevin Costner, "Hatfields & McCoys"
MELHOR ATRIZ EM MINISSÉRIE OU FILME PARA A TV Julianne Moore, "Game Change"
MELHOR ATOR COADJUVANTE EM MINISSÉRIE, SÉRIE OU FILME PARA A TV Ed Harris, "Game Change"
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM MINISSÉRIE, SÉRIE OU FILME PARA A TV Maggie Smith, "Downton Abbey"
MELHOR MINISSÉRIE OU FILME PARA A TV "Game Change"