quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Literatura adaptada: "A Vida de Pi"

Puxei sardinha sim para o livro 'A Vida de Pi', ficção literária adaptada recentemente para o cinema. Fiquei encantada e estou quase lendo de novo. É diferente de tudo que já li. Segue matéria pro jornal.
“Poucos náufragos podem dizer que sobreviveram por tanto tempo no mar quanto o sr. Patel, e nenhum deles em companhia de um tigre-de-bengala adulto.”
As últimas frases do livro “A Vida de Pi”, do espanhol Yann Martel, despertam em quem o conclui um despretensioso e impulsivo sorriso.
Terminar um bom livro é virar uma página da vida quando ainda se quer estar preso a ela. Nem sempre é fácil virar essa página e, no caso de “A Vida de Pi”, o fim é completamente desconfortável. Antes de resolver embarcar nessa aventura, fique sabendo: ao fim dela, somos todos órfãos de Pi.
Os 227 dias em que Piscine Molitor Patel passa ao lado do leitor e do tigre Richard Parker no Pacífico não só fazem céticos acreditarem em Deus (como propõe a história), mas provam o poder que um escritor tem de fazer uma ficção impossível se tornar uma história extremamente realista. Aliás, é normal, durante a leitura, se questionar se o naufrágio do navio japonês Tsimtsum realmente aconteceu.
Narrativa. Em “A Vida de Pi”, Martel leva o leitor a uma viagem cultural, religiosa e comovente pela vida de Pi Patel, um jovem indiano que perde a família em um naufrágio e tenta sobreviver em um bote salva-vidas na companhia de uma hiena, um orangotango, uma zebra e um tigre-de-bengala.
Além de ser envolvente e prender a atenção, o estilo literário provavelmente será diferente de tudo que você -- louco por literatura -- já leu. A imersão -- rica em detalhes e bastante didática -- na cultura indiana encanta até os menos entendidos, e a inocência com que o jovem Piscine lida com as adversidades faz o leitor se sentir mais puro ao fim de cada capítulo lido.
Richard Parker. O companheiro de viagem de Pi é também uma história a parte. A forma com que o autor descreve o tigre Richard Parker, nas recordações de Pi, confunde o leitor. Nos primeiros capítulos do livro, por exemplo, é impossível não pensar que Parker é um ser humano e, após algumas páginas, é surpreendente descobrir que ele, na verdade, é um tigre-de-bengala.
O livro é, além de uma história envolvente, um oceano Pacífico de sabedoria. A leitura que ensina a sobreviver a um naufrágio também o faz com as atribulações da vida.
O sorriso despertado pelas últimas frases não é de satisfação pelo desfecho, muito pelo contrário, ele vai abrir um buraco no seu peito. Mas é por perceber que todas as situações, por piores que sejam, podem ser vistas de um ângulo melhor e que, por mais perdido que você esteja, sempre vai haver algo em que possa se apoiar, mesmo que só lhe reste a imaginação.
Inspiração. “A Vida de Pi” é uma obra inspirada no livro “Max e os Felinos” (1981), de Moacyr Scliar, que conta a história de um naufrágio em que os únicos sobreviventes são um garoto e uma pantera. Martel escreve sobre a inspiração: “Já a centelha de vida devo a Moacyr Scliar”.

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