terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sem rebobinar

Conheça as transformações físicas e conceituais no cinema desde o início do século passado
No museu das palavras que caíram em desuso, uma antiga companheira dos cinéfilos foi completamente esquecida pela sociedade. Tanto foi que quem nasceu no início da década de 1990 pouco lembra dela, e quem nasceu no fim dos 1990 desconhece completamente.
Nos anos de 1980, um sistema de reprodução de áudio e vídeo revolucionou o vídeo caseiro. Era uma fita magnética dentro de uma caixa plástica que permitia que os mesmos filmes exibidos no cinema pudessem ser vistos no conforto do sofá de casa.
O VHS nunca foi um objeto prático. Com a mesma artimanha trabalhosa dos grandes projetores de cinema -- mas em tamanho reduzido --, o filme revelado nele era lido pelo aparelho e reproduzido na tela.
Ao fim, era preciso voltar a fita antes de recomeçar a sessão ‘cinema em casa’ e é aí que a palavra esquecida surge. Era preciso ‘rebobinar’.
Foi em 1995 que tudo mudou. A chegada do DVD ao mercado causou uma ruptura que colocou o VHS na lista dos produtos em extinção e ‘rebobinar’ no museu do desuso.
Ir do analógico ao digital foi um salto em qualidade de som, imagem e, principalmente, no controle sobre o conteúdo gravado. Hoje, a fita que só funcionava se não estava sujo o cabeçote se tornou artigo único de colecionador.
Contudo, ao mesmo tempo que o vídeo evoluiu, a forma de fazer cinema se modificou.
Sétima arte. Em 1902, quando os filmes se baseavam em pessoas andando em uma estação de trem, acidentalmente Georges Méliès descobriu que poderia criar efeitos especiais quando sua câmera travava, podendo fazer pessoas e objetos sumirem e reaparecerem. A partir daí, resolveu que não queria mais usar aquele objeto que captava imagens em movimento para reproduzir a rotina das pessoas, mas que queria contar histórias.
Depois disso, a coisa desandou (de forma boa). “King Kong” (1933) mostrou que era possível pequenos bonecos dividirem a cena com pessoas; “Branca de Neve e Os Sete Anões” (1937) trouxe cores tão vivas a um desdenho que diziam poder machucar os olhos; “Cidadão Kane” (1941) redefiniu os ângulos de filmagem; “Casablanca” (1942) mostrou que era possível ser belo sem um final feliz.
Depois, “Uma Cilada Para Roger Habbit” (1988) provou que unir desenho animado a atores reais só era válido se realmente existisse interação; “O Parque Dos Dinossauros” (1993) praticamente inventou o imaginário do período jurássico que temos hoje com personagens digitais completamente realistas; “Toy Story” (1995) deu vida a brinquedos com o uso perfeito da tecnologia CGI; e, finalmente, “O Senhor dos Anéis” (2001/2003) sapateou sobre a forma analógica de fazer cinema reconstruindo completamente um personagem pelo computador.
Contemporâneo. De nada adiantaria toda a evolução do cinema se a reprodução deste não evoluísse em sintonia. Desde 1998, os recursos digitais das produções pedem uma nova tecnologia de reprodução, o Blu-ray, que chegou em 2010 no mercado.
Ao contrário do que aconteceu com o VHS, essa nova tecnologia não surgiu para extinguir o DVD, já que os aparelhos Blu-ray também leem este formato. A alta definição veio somar ao que já existe no mercado e permitir que novas vertentes sejam descobertas.
O 3D já está na casa das pessoas, o 4D, em alguns cinemas. Basta apenas não esquecer que não é só de tecnologia e efeitos especiais que se faz o cinema e lembrar, com Méliès, que o mais importante é contar uma boa história.

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