sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Teoria furada

A inquietude dos irmãos Wachowski . Novo longa dos criadores de ‘Matrix’ é um vai e vem fascinante para fazer você pensar: em vão
“Se tomar a pílula azul a história acaba. Se tomar a vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho.”
Em 1999, a escolha dos irmãos Lana e Andy Wachowski de mostrar o que acontecia ao seguir pela toca do coelho resultou em um dos filmes mais aclamados e discutidos da história do cinema. “Matrix” revolucionou a sétima arte e abriu precedentes para que a realidade simulada fosse cada vez mais difundida. Os Wachowski se tornaram ícones mundiais e a façanha nunca mais se repetiu. Até hoje.
Nesta sexta-feira estreia nos cinemas da região uma nova parceria entre os irmãos de “Matrix” e Tom Tykwer (diretor de “Corra, Lola, Corra”). “A Viagem” é um filme sêxtuplo, formado por meia dúzia de histórias que acontecem em épocas diferentes e são apresentadas ao espectador de forma confusa e não-linear, cuspidas uma após outra, retomando a primeira, voltando à anterior e assim vai.
As seis narrativas possuem ligações que explicam a frase “tudo está conectado”, impressa no pôster do filme. No entanto, essas paridades não são suficientes para fazer o espectador compreender o que os diretores criaram e, provavelmente, será necessário rever o filme algumas vezes para começar a digerir a proposta. Digerir, não entender.
O longa, que tem 3h de duração, é adaptado de um best-seller filosófico do britânico David Mitchell. Por aí é possível entender o caminho tempestuoso que os diretores tentaram percorrer. Mas a mão pesou na hora de colocar a história em prática e o resultado é um público sapateando em torno de possíveis explicações.
Conexões. As marcas de nascença são o ponto em comum mais óbvio nos personagens, um tipo de estrela cadente que todos têm e que se transforma durante o filme.
As seis histórias envolvem a busca por liberdade de formas variadas, seja por compor uma canção, fugir, deixar de ser escravo, salvar um povo. Um livro escrito no passado aparece em uma prateleira no futuro e um disco quase esquecido na loja é resultado de uma história de amor antiga descrita em cartas que ajudam a desvendar um crime anos depois.
Mas o ponto mais interligado, sem dúvida, são as vidas envolvidas nas histórias, sempre repetidas, interpretadas pelos mesmos sete atores que incorporam diversos personagens. É bonito de assistir. Mas houve uma preocupação tão grande com essas aparições, por vezes mínimas, que se gera um desvio da trama, obrigando o espectador a buscar um sentido para isso, como a reencarnação, por exemplo.
The End. As diversas ligações não conseguem conectar as histórias, que se tornam distintas, como seis filmes espremidos em um. Os detalhes que deveriam unir passado e futuro passam a impressão de terem sido colocados lá como remendos, tentando dar um novo sentido a algo pronto, como alguém que busca tanto encontrar coincidências que acaba inventando-as.
Ao invés de tentar encontrar as articulações que ligam as histórias, o espectador deve enxergar essa ‘viagem’ como um processo natural e não reativo. As épocas e ações se cruzam porque seguem um ciclo, não por precisarem coincidir em algum momento.
Enxergando dessa forma, “A Viagem” é um dos filmes mais ambiciosos já produzidos, que vai de 1849 a 2346 de forma cíclica, apresentando atuações e maquiagens tão fascinantes que tornam os atores irreconhecíveis e que te fará querer discutir profundamente as teorias que surgirem.
“A Viagem” não se compara a Matrix. Mas os irmãos Wachowski conseguiram novamente nos tirar a paz.

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