terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

OSCAR : Ele faz a história

Tarantino reforça seu cinema em 'Djando' e, com cinco indicações, prova que não precisa ser realista para ser grande
Alguns diretores conseguiram, além de emoldurar as mãos na calçada da fama, assinar seus nomes na história do cinema. Fixado junto a Hitchcock, Scorcese e Kubrick na lista de célebres reforçadores de personalidade, atualmente o diretor hollywoodiano com a assinatura mais original é Quentin Tarantino.
Seus longas são carregados de humor, violência, trilha sonora marcante, diálogos longos e inteligentes, misturam o cult com o popular e possuem um sangue tão característico que chega a ser citado, por vezes, como “vermelho à la Tarantino”.
Dessa forma, os fãs que foram aos cinemas em janeiro assistir a “Django Livre”, indicado a cinco Oscars, não tiveram do que se decepcionar. Mesmo assim, o longa provavelmente desperte mais amor em quem segue o diretor do que nos jurados da Academia no domingo.
No filme, Django (Jamie Foxx) é um escravo liberto pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz). Schultz está em busca de alguns assassinos que apenas Django reconheceria e, por isso, os dois iniciam uma parceria. No entanto, tudo o que o ex-escravo quer é libertar sua esposa, e Schultz promete ajudá-lo. A busca por Broohmilda os leva a Candyland, a fazenda do rico Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) que usa escravos para lutar e ganhar dinheiro -- e que é dono da esposa de Django.
Histórico. Tarantino tem, fora as características de estilo já citadas e que são permanentes, um foco que de tempos em tempos muda. Em “Pulp Fiction, Tempos de violência” (1994) e “Cães de Aluguel” (1992), por exemplo, o diretor se preocupou em testar todas as possibilidades que o cinema -- falando em estrutura -- lhe permitia.
O alvo era a experimentação, não a história, por mais que instigasse a reflexão. Em “Kill Bill”, vol. 1 (2003) e 2 (2004), o diretor apresentou a sua paixão pelas mulheres e pelos artifícios estilísticos do cinema, enquanto também demonstrava preocupação com a narrativa. Com “Kill Bill”, ele descobriu a vingança e a transformou em seu melhor filme, que ele mesmo sabia o ser ao adicionar a frase final de Brad Pitt ao roteiro de “Bastardos Inglórios” (2009), quando diz: “Acho que esta é minha obra-prima”.
“Django” é uma evolução do cinema de Tarantino. É repleto de referências ao faroeste spaghetti que o diretor tanto adora, com um refinamento plástico de deixar a dancinha clássica do Mr. Blonde sem graça. Mas é, também, um mais do mesmo de “Bastardos Inglórios” e não deve levar prêmios.
Negativo. O filme é muito longo e, ao contrário de “Bastardos” -- que gera tensão com o tempo estendido das cenas --, “Django Livre” não causa a mesma impressão. O longa possui tantos personagens complexos com histórias e interpretações interessantes que o espectador se confunde com quem é o protagonista, o que acaba dando menos força ao foco da trama, o escravo Django.
Até pouco mais da metade do longa-metragem, o que se vê é um filme completamente construído em torno do ator Christoph Waltz, que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pela interpretação do Coronel Hans Landa de “Bastardos Inglórios” em 2010 e, junto com a estatueta, virou o ‘menino dos olhos’ de Quentin Tarantino, recebendo uma nova indicação na mesma categoria por Schultz, neste ano.
Já a reconstrução da própria história ‘à la Tarantino’ é algo que os fãs adoram, mas que a Academia não costuma premiar. “Bastardos”, mesmo sendo a obra-prima do diretor, mudou o final real da história e assassinou Hitler e diversos nazistas em um incêndio dentro de um cinema.
O longa recebeu sete indicações ao Oscar, mas só levou o de Ator Coadjuvante, reforçando que os jurados se interessam por ficções, mas ainda preferem histórias que pareçam mais realistas.
Fugir completamente do final original da história e ainda assim se tornar um filme consagrado foi algo que mostrou a força de Tarantino, que agora simplesmente pode filmar o que desejar. Por esse motivo, em “Django”, ele fez questão de mostrar o quão ‘não realista’ queria ser nas cenas finais de batalha, quando cabeças explodem ao som de bolhas estourando.
Positivo. O filme de Tarantino é um forte candidato a levar a estatueta de Ator Coadjuvante novamente, com Christoph Waltz, mas ele vai disputar com Robert de Niro, e a briga vai ser boa. “Django” não deve levar Melhor Filme e nem outras categorias -- há uma pequena chance em Edição de Som.
Ficha:
Django Livre
EUA, 2012
Diretor: Quentin Tarantino
Indicações: 5 Oscars
Avaliação: Ótimo Forte candidato ao prêmio de Ator Coadjuvante
Veja trailer aqui.

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