sábado, 1 de dezembro de 2012

Cinema em branco e preto

Em 30 de novembro de 1914 Charles Spencer Chaplin estreou nas telas com Making a Living. Quase 100 anos depois o cinema mudou, mas Carlitos será sempre O Carlitos.
Como um andarilho de chapéu-coco, bengala de bambu e sapatos com bicos longos Charles Spencer Chaplin encantou o mundo do cinema e conquistou um espaço eternizado na calçada da fama e outro nos corações dos cinéfilos. Ontem, 30 de novembro, há 98 anos, o artista aparecia pela primeira vez na tela com o filme Making a Living, película na qual interpretava um homem que vai trabalhar como repórter e se envolve com o roubo de uma câmera fotográfica com negativos de uma reportagem sensacionalista.
Em Making a Living Chaplin ainda não era Carlitos -o personagem que o consagrou. Usava uma cartola de fundo alto, bigodes longos contornando os lábios e óculos de um olho só. Os indícios de que ali existia uma estrela estavam apenas na forma ‘pinguinesca’ de andar e na bengala que o acompanhou como uma parceira de cena por toda a vida.
Chaplin nos faz pensar no quanto o cinema evoluiu em seus pouco mais de 100 anos de história e o quanto a arte mudou, claro, para melhor, mas com algumas consequências não tão felizes. Na comédia romântica O Amor Não Tira Férias o personagem Arthur Abbott (Eli Wallach) é um roteirista que, em um momento do filme, comenta uma época em que estreavam uma produção por mês, hoje são cerca de nove por semana. Um viva para quem consegue acompanhar!
Há 40 anos a matinê de sábado era o programa do final de semana. Belchior cantou as coisas boas que trazia no peito enquanto pedia a sessão de cinema das cinco e sentia saudades da camisa suja de batom em 1977. Lisbela esperava o próximo capítulo de uma novela que se confundia com a sua vida e a de seu prisioneiro (Lisbela e o Prisioneiro, Guel Arraes, 2003). O cinema era sujo de sonhos, de som (mesmo que mudo), de vida (mesmo sem cores).
Hoje o cinema é mais espetáculo, menos história. As novas tecnologias falam por si e muitas produções preferem gastar com grafismos digitais ao invés de bons enredos, ou enredos simples, mas que tocam o coração. Na disputa pelo Oscar de 2012 o mundo foi bombardeado por produções nostálgicas como A Invenção de Hugo Cabret (Martin Scorsese) e se encantou com o regresso do cinema mudo preto e branco recebendo a estatueta de Melhor Filme com O Artista, romance francês do diretor Michel Hazanavicius.
Neste final de semana que marca a estreia de Carlitos devíamos repensar o cinema como arte nesses ‘Tempos Modernos’. Claro, há de ser espetáculo, mas nunca há de deixar de ser a arte que é feita da rua, de qualquer lugar onde possa haver inspiração. Uma arte marcada por personagens como o Carlitos e como o brasileiro Mazzaropi, personagens do povo com histórias simples o suficiente para encantar e se tornar inesquecíveis. Com direito a “Smile” como trilha sonora do THE END.

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