quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Múmia café com leite



Sabe quando dá aquela vontade de tomar um café passado na hora, daquelas que você chega a sentir o gosto forte na ponta da língua, que dá água na boca? Você pede, aguça o paladar pelo aroma esfumaçado e ao tomar o primeiro gole... Café aguado. Fraco. Descafeinado.

Pois é esse o gosto que dá na boca quando um cinéfilo assiste A Múmia III e começamos pelo simples fato de não haver múmia nenhuma. Temos apenas um imperador Jet Li amaldiçoado com todo o seu exército de olhos puxados. Aí vão me dizer: “Mas a tumba do imperador dragão e seus guerreiros Terracotta foram inspirados na tumba verídica do primeiro imperador da dinastia Qin. O mausoléu fica localizado em Xi'an, na China.” E onde está o Vosloo nisso? Que seja. Outra punhalada aos fãs de histórias egípcias foi a substituição da atriz Rachel Weisz que não aceitou o papel. Deixasse ela com os seus eruditos de Bembridge. Pelo menos não estragava a história. No entanto, temos um ponto positivo e relevante, não apareceu nenhum Escorpião Rei, deveras. Mas reinventaram o abominável homem das neves.

A questão é que assistir A Múmia - Tumba do Imperador Dragão me fez pensar sobre a verdadeira necessidade das continuações na sétima arte. No filme dos Simpsons, por exemplo, em uma entrevista o diretor David Silverman e o Meyer disseram, no auge da bilheteria, que só fariam um segundo filme se tivessem um bom roteiro, isso porque, para sair o primeiro foram 158 versões. Conseguiram uma admiradora.

Seguindo a linha de raciocínio dos desenhos, a própria Disney, a grande Disney, só criou uma boa seqüência quando fizeram um remake de O Rei leão I na versão dos personagens Timão e Pumba, o O Rei Leão III. A Dream Works tem projeto para repercutir até um sétimo Shrek, sendo que o terceiro tanto não criou expectativas quanto não as atingiu. Com exceção do gato-de-botas e seu olhar eternizado.

Vamos às sucessões então. O Poderoso Chefão? O primeiro ainda é o melhor. Missão Impossível? O primeiro. Jurassik Park? John Williams não criaria uma outra trilha magnífica como aquela. Meu Primeiro Amor? Existe um segundo primeiro amor? Vamos lá, Efeito Borboleta, Duro de matar, Matrix, Onze Homens e Um Segredo, todos cometeram o mesmo erro. O próprio O Cavaleiro das Trevas só é bom porque é o filme do Coringa, não do Batman. Existem também as produções que retomam o começo, Batman Begins, O Exorcista – O início, Hannibal – O início.

Não sou contra seqüências, mas sou avessa a remendos. Temos, na glamourosa história hollywoodiana, um leque de grande produções eqüilibrado a um de grandes fiascos. A trilogia Bourne é um exemplo da boa produção, assim como algumas boas películas específicas para fãs, como o Rocky Balboa, o Rambo IV, o último Indiana Jones, além dos roteiros que já são criados com essa finalidade, como os inspirados em livros e quadrinhos, que estão na moda. Mas um remendo ambicioso como A Múmia III é o cartão de entrada para a lista da volta dos que não deveriam ter vindo. Não me exorcizem, mas se é para fazer uma seqüência sem graça, que façam séries ao invés de longas sucessivos que custam 150 milhões de dólares. A Warner TV agradece.

Que a força esteja com vocês!

Ticiana Schvarcz

Nenhum comentário: