quinta-feira, 2 de abril de 2009

Duas palavras: Clint Eastwood


Tenho em mãos a vontade, na cabeça a idéia e, no momento, nenhum conhecimento. Escrevo aqui um texto completamente emocional.

Estive dias atrás em São Paulo, batendo um papo no melhor estilo ‘cinematógrafo’ com o diretor de fotografia Uli Burtin e saí desse encontro com um filme na cabeça. Filme esse citado por ele em vários momentos e com uma classificação de atual memorável. Começo então meu destrinchar emotivo Gran Torino. Aliás, preciso tentar escrever numa velocidade maior que meus pensamentos.

Antes de ver o filme li uns artigos sobre ele e, em um, uma frase me chamou a atenção. O autor dizia que não havia visão mais assombrosa do que ter que encarar Clint Eastwood pelo retrovisor. Concordo. Gran Torino já é nome de clássico, não é? Bom, o filme é drama da primeira cena ao claquete final, ou seja, não é a combinação: amigos, pipoca. É um filme solitário, que precisa acontecer sozinho, e ser visto sozinho. Provavelmente, ao sair do cinema não vão rolar comentários, risadas ou coisas do gênero, talvez umas expressões corriqueiras daquelas de quando não se tem nada a dizer.

A construção do filme é simples e sem ares de grande produção Hollywoodiana, o que acaba por puxar ‘involuntariamente’ toda atenção para Eastwood. Aliás, As cenas de luz baixa são ótimas, elas sempre chamam a minha atenção.

Em Menina de Ouro o diretor e ator considerado 2º no ranking dos 100 melhores astros do cinema já mostrou o seu jeito paterno na relação aprendiz/professor, o que se repete em Gran Torino. Uma pena a interpretação do garoto Thao (Bee Vang) ter deixado a desejar, mas em frente ao que seria um monstro sagrado, chega a ser compreensível. O filme fala sobre preconceito, valores, família, religião e Eastwood, que completa 50 anos de carreira, consegue reunir tudo o que já mostrou que sabe fazer em outras produções em uma trama cheia de humor sádico, claro.

Um detalhe que me incomodou o filme todo foi a falta de trilha sonora, eu até me peguei em alguns momentos imaginando que para finalizar tal cena, a entrada de uma música em determinado momento faria toda a diferença. Mas não podia, ele, ter se esquecido desse detalhe. A ausência de notas musicais intermediando a trama acaba por dar uma sensação mais dramática a história e porque não -e como não dizer- que também dá a ela um toque maior de realidade.

Voltando a Uli Burtin, ainda me veio ele na memória em outro momento da história, na violência. Durante a conversa discutimos a necessidade ou não de se explicitar agressões e, como não poderia faltar, lembramos o quanto Laranja Mecânica foi violento sem tampouco fazer esses momentos serem vistos. A cena mais forte de Gran Torino talvez seja a que menos ‘exponha’ em todo ele. E aí voltamos aos sons, os quais eu simplesmente não os percebi nessa cena. A ausência de falas acessíveis a língua nos faz pensar em toda a cena que não vimos e faz de um momento, o momento, não o do filme, mas das imagens que nós mesmos reproduzimos daquilo. Confuso, não é? Assista a cena do desaparecimento da menina e depois pare para pensar se em algum momento você ouviu que eles estavam falando. Eu não ouvi.

Preciso abrir uma ressalva para a expressão de Eastwood, lá pelo meio do filme é possível você se perceber com aquela mesma massa torcida de cansaço na face que ele exibe o filme todo, é quase contagiante. Claro que a produção tem defeitos, como qualquer outra, mas como eu disse que o meu texto seria completamente emotivo e escrito sob uma visão só (de quem viu o filme a meia hora), ainda não encontrei um bom defeito. Encontrei sim, a interpretação do hmong Thao. Mas pela vontade de fazer cinema de Eastwood eu digo, Gran Torino tem lugar certo, a partir de hoje, na minha prateleira. E não digam que o diretor não é tudo que eu escrevi nessas linhas, porque ele até o meu Word reconhece.

4 comentários:

Unknown disse...

Fiquei até com vontade de ver esse filme, dona Ana. Ele(Clint) é de fato, ótimo.
Escreva sobre Cassino e Taxi Driver!
(Tô numa fase apaixonada por De Niro)
Gostaria de ler!
=*
Pedro

Marianna D'Amore disse...

memorável: ele cantando "gran torino" nos créditos ...
a rouquidão da velhice inevitável com uma carga de emoção contagiante.

Mexeu comigo desde o clip que vi no canal warner, há meses atrás.

Qdo vi, me apaixonei.

Ticiana Ferolla Schvarcz disse...

pedido feito, farei o que puder para concretizá-lo, Pe. =]
Brigada pela visita.
;*

Keila disse...

Tici, parabéns pelo blog. Poxa vida! Inspirador! Ele está ótimo, o texto é leve, divertido, parece que estou vendo você falar desmesuradamente na minha frente, rs.
Ele me parece ser um espelho muito fiel do que você é e, com essa coisa de te ouvir falando quando o leio, dá a sensação de leveza, de bate-papo. Tudo de bom pra um blog.
Vou acompanhar os próximos posts!
Um beijo!