terça-feira, 16 de junho de 2015

Jurassic World: a variação tecnológica da receita

Um homem que não tem com que gastar dinheiro cria um parque de diversões inovador. No lugar de montanhas-russas ele tem dinossauros. Entre os visitantes há familiares menores de idade e o escolhido para analisar as atrações segue a linha Indiana Jones. Há também alguém ambicioso, querendo ganhar vantagem naquilo tudo e, claro, um dinossauro cheio de dentes tocando o terror.
Resumidamente, estamos falando de Jurrasic Park, 1993. Não, péra. Estamos falando de Jurassic World, 2015.
No fim, a receita é a mesma, o que muda é a tecnologia. Obviamente seria difícil desbancar o clássico de Steven Spielberg de 1993. Ninguém conseguiu, nem mesmo as sequências O Mundo Perdido (1997), que receberia no máximo uma classificação ‘boa’, e Jurassic Park 3 (2001), que beira a classificação ‘sessão da tarde’.
Eu vi o filme de 1993 pela primeira vez em um VHS. Zero glamour, TV pequena, som mono, tudo analógico. Mas desde o momento em que vi meu primeiro dinossauro em CGI -já que antes meu imaginário pré-histórico era formado pela animação Em Busca do Vale Encantado (1988)- eu nunca mais enxerguei um dinossauro que não fosse de Spielberg.
Jurrassic Park não serviu só para fazer o espectador acreditar na existência desses animais, mas deu até aos pesquisadores algo para se instigar. Até 1993 ninguém imaginava como um dinossauro andava, com o que soava, os movimentos que fazia. Foi a equipe de Spielberg que deu isso ao mundo e o mundo agradeceu tornando os dinossauros de Spielberg referências fora da tela.
Como superar um feito desses?
Repetindo-o.
Jurassic World, que chegou aos cinemas na última semana, recria a mesma história do primeiro longa, com a ressalva de que o parque finalmente abriu e abriu 20 anos depois. Claro que a produção não poderia repetir a receita do T-Rex destruidor, que depois de tanto tempo ficou menor e menos assustador que muito arranha-céu por aí. Eles precisavam de novidade, algo maior, que despertasse o medo e a curiosidade da geração de hoje. Então surgiu a Indominus Rex, a versão mais assustadora do T-Rex com requintes genéticos. Filha da mistura em laboratório de tudo o que é grande, mortal e cruel, ela mata por esporte e não só enxerga movimento como sente vibrações térmicas (Chupa, T-Rex!).
E para os fãs um pouco mais apaixonados e que acabaram tendo tanto medo no passado que desenvolveram amor pelos velociraptores, o que é o meu caso, o filme é um deleite. A proposta de que pode haver respeito entre um humano e um dinossauro dá aquela empatia ao longa que a gente sentiu quando viu o Tricerátops doente no primeiro filme, quando você acha que pode SIM ter um dinossauro de estimação, ainda que ele queira te comer.
Jurassic World é a receita transgênica de Jurassic Park que ficou tão boa que já se tornou a maior estreia da história de Hollywood! A resposta nas salas de exibição é o resultado de vinte anos de evolução tecnológica do cinema, que permitiu ao espectador voltar a 1993 sem precisar sair de 2015. Na trama, passaram duas décadas desde o fechamento do primeiro parque e já se vão 20 anos desde a estreia do primeiro filme. O tempo que separa as produções foi muito bem utilizado para o sucesso delas e para que, mais uma vez, recriar dinossauros fizesse sentido.

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