quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Religião, política, futebol E cinema não se discutem.

Ok, ok. Vamos começar tirando a teia de aranha do trenó do Cidadão Kane. Essa semana inventei uma válvula de escape e vi todos os filmes que estavam passando no cinema dessa grande cidade do interior do MS e pequena em relação as menores de São Paulo. Pasmem. Eram numerosos trêêês longas em exibição e, como se em algum lugar alguém ouvisse minhas preces, havia UM legendado.

Mas hoje não estou aqui para falar exatamente dos três, mas de situações que geram discussões, que geram opiniões contrárias, que geram críticas. Essa semana duas coisas me chamaram a atenção no mundo cinematográfico nacional, uma foi a indicação do longa Lula O Don... Ops, o Filho do Brasil pelo Ministério da Cultura como representante brasileiro candidato a uma vaga no Oscar e a outra girou em torno da produção e críticas da adaptação do livro do espírita Chico Xavier, Nosso Lar.
Brincadeiras à parte, Nosso Lar me encantou do início ao fim. Eu já havia gostado do filme Chico Xavier, mas admito que tinha receio do que podia ser Nosso Lar por causa das reconstruções, dos efeitos digitais e do uso do Chroma Key. Depois de ir ao cinema e encarar o desconhecido, vejo a experiência como um passo do Brasil para o futuro e fiquei muito orgulhosa do conjunto da obra. Primeiro porque estamos investindo em nós. Por mais que a trilha sonora e os efeitos digitais tenham sido criados por estrangeiros, vejo Nosso Lar como um ponta pé inicial, um teste, um aprendizado que, na minha opinião, está dando certo. Já aviso que vou repelir quem vier discutir comigo que Transformers é mais bem feito que Nosso Lar. Pudera, são 123 milhões de dólares A MAIS em produção. Isso não é discutível, nem comparável. O que vim dizer é que o longa teve o maior orçamento da história do cinema nacional até agora, R$20 milhões, deixando para trás a história do nosso quase ex-presidente, em que foi utilizado cerca de R$15 milhões. E o que isso quer dizer? Que está valendo a pena investir mais em cinema, que o brasileiro está vendo filmes nacionais.
Claro que estamos falando de um público que entra na classe das coisas indiscutíveis, a religião e os espíritas. Mas eu, que não me considero de uma única religião recomendo o longa a quem gosta de um bom filme. Ressalto a cena do Holocausto, achei fantástica. A trilha e a maneira como foi montada me emocionaram e em momento algum vi como falta de respeito a entrada no Nosso Lar das vítimas que carregavam como símbolo a estrela de Davi. Na verdade imaginei bem o contrário e, sinceramente, exatamente o que eu sempre acreditei, que existe apenas uma religião com diversas crenças, mas que, no fim, nos encontraremos no mesmo lugar, sejam Católicos, Protestantes, Espíritas, Budistas, Judeus, etc...
Enquanto eu buscava, após a sessão de Nosso Lar que assisti, o orçamento e críticas do filme para conhecer outras opiniões, percebi que havia um novo rebuliço no cenário de notícias sobre a Sétima Arte nacional. Cineastas criticavam, jurados defendiam e o Brasil ficava sabendo que Lula, O Filho do Brasil foi o filme escolhido para tentar concorrer ao Oscar.
Me desculpem os adeptos, mas antes de criticar penso que um filme, para ser escolhido para representar um país pode, inicialmente, ser escolhido pelo povo. O que não foi bem o que aconteceu. Para quem lembra, em janeiro desse ano, depois de meses de propaganda (quase apelativa, quase política), o longa não teve a repercussão imaginada e até mesmo o triste acidente do diretor Fábio Barreto chamou bem mais atenção no tapete vermelho. Eu vejo sim a grande figura internacional de Lula como um ponto positivo em tudo isso, como disse Fernando Meirelles em entrevista, é um rosto conhecido internacionalmente e isso é importante. Mas tivemos, nesse ano, tantos filmes bons que poderiam representar o país que não acredito que tenha sido a escolha certa. Uma sugestão? Suprema Felicidade, que traz novamente ao cinema Arnaldo Jabor depois de 20 anos sem dirigir. O filme está chegando aos cinemas agora, mas tem um trabalho e história fantásticos. Temos tantas montagens mais simples e igualmente belas nas telas (e sem apelo) que me pergunto se precisávamos mesmo que fosse a tentativa frustrada de um novo Dois Filhos de Francisco que deveria nos representar?
Conheço bem a frase que diz que religião e política não se discutem, mas o progresso que vejo no cinema nacional após Nosso Lar e o retrocesso que sinto com o Lula, o Filho do Brasil nos representando me fazem pensar que a política exercida de forma errada no nosso país pode estar alcançando o cinema, e perguntar “será que mandando nele também?”. É só algo que me incomodou. Mas eu espero sinceramente que não e que, como água e óleo não misturem política e cinema para que a nossa Sétima Arte não perca o que faz dela brasileira, a personalidade.



Ah, e o futebol nisso? Bom, hoje é quarta-feira, dia de jogo na TV e quem quiser procurar nos cinemas está passando Bróder, uma produção nacional com aquele jeitinho brasileiro que mistura a realidade das favelas, Copa do Mundo e amizade. Claro que não vai passar aqui, portanto, espero as críticas de vocês.