terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Terror com pitada de comédia, ou vice-versa - Zombieland


Comedores de cérebros, perseguidores incontroláveis, defuntos condicionados, zumbis. Desde pequena (com minhas ‘medrosisses’ à parte) nunca gostei da raça dos morto-vivos, mesmo aqueles que hoje eu acharia engraçados e que apareciam em A Volta Dos Mortos-Vivos (Dan O´Bannon) clamando por cérebro, mordendo cabeças e, consequentemente, produzindo um som de mordida não muito diferente de um sapato achatando uma barata. Algo como “Plac”. No entanto, fui surpreendida com um início de 2010 cheio de comentários sobre uma produção do gênero terror, incrementado pela comédia - ou vice-versa - e recheado de cadáveres sedentos por carne...viva.

Zombieland realmente me apanhou desarmada quando fui assisti-lo e, não ser pego assim, segundo o filme, é uma das regras fundamentais para a sobrevivência quando a grande maioria dos seus vizinhos, no lugar de um amistoso ‘bom dia’, vão tentar te comer. O filme não pode ser considerado algo mais que um passatempo, devo alertá-los, mas mesmo sem um enredo bem definido com início, meio e fim, acredito que há anos eu não via um longa de humor negro tão inocente, tão divertido e tão bem feito. Possivelmente o filme Todo Mundo Quase Morto (Edgar Wright ), de 2004, é o mais próximo.

Que o diretor George A. Romero iniciou a Sétima Arte na ‘zumbilândia’ com seu A Noite dos Mortos Vivos todo mundo sabe. Mas tente assistir ao filme de 1968 com um olhar contemporâneo e, no mínimo, você vai se perguntar onde começa e termina a história no meio daqueles defuntos ambulantes e dos personagens que simplesmente surgem. Foi me fazendo lembrar disso que os roteiristas de Zombieland (Rhett Reese e Paul Wernick) e o diretor iniciante (Ruben Fleischer) começaram a chamar a minha atenção, ali, naquele ponto em que eu senti falta de uma trama propriamente dita. Ao ver o filme é bem possível imaginar que alguém teve uma idéia relacionada à meia dúzia de pessoas que sobreviveram a uma epidemia que transformou todos os seres humanos em mortos vivos e a partir daí... Bom, a partir daí o diretor disse: “Vamos filmar assim e ver o que vai acontecer.” Foi mais ou menos essa a minha sensação.

É ao som de Metallica - “For Whom The Bell Tolls” que Columbus, (Jesse Eisenberg) um típico adolescente nerd, abre as primeiras cenas do longa narrando as regras –que criou- para sobreviver em uma cidade em que o único ser humano não afetado pela praga dos mortos vivos possivelmente seja ele. Condicionamento físico, atirar duas vezes, não esquecer o cinto de segurança e não bancar o herói fazem parte de suas anotações, que citam superficialmente o principal motivo de sua sobrevivência, ou o seu modo de vida, o isolamento.

Ao sair à procura de seus pais, que vivem na cidade de Columbus, o adolescente se torna companheiro de viagem de Tallahassee (Woody Harrelson), um homem que equilibra a covardia do garoto ao seu gênio explosivo, durão e principalmente sem um pingo de sanidade. É engraçado como Woody Harrelson está ficando marcado por seus personagens carismáticos, fortões e bobos. Desde Mera Coincidência (Barry Levinson) não consigo vê-lo de outra forma. Acho que impagável seria a palavra, ele fica ótimo no papel.

É na contínua tentativa de sobreviver que os personagens acabam encontrando as irmãs Wichita e Little Rock (Emma Stone e Abigail Breslin), que sem dúvida estão mais preparadas que eles para encarar os mortos vivos. Aliás, fiquei assustada ao ver o quanto Abigail Breslin, a eterna e que deveria ser pequena Miss Sunshine cresceu em apenas três anos. Em Zombieland ela não é apenas uma garotinha fofa de doze anos, ela é uma garotinha fofa de doze anos que carrega uma arma e não hesita em puxar o gatilho.

O interessante do filme é que quanto mais humanos aparecem, menos ‘zumbilesco’ ele fica, fazendo até você esquecer o tema em alguns momentos e apenas se divertir com as presepadas dos quatro personagens. E acredito que o diretor também acertou nesse ponto, em mostrar que quando não há outra opção é preciso seguir em frente da melhor maneira, fazendo comédia. De qualquer jeito, o espectador não critica a trama maluca porque, sem dúvida, está se divertindo demais para isso.

É a dicotomia dos personagens que faz cada diálogo bobo, engraçado. O anfitrião infantil e obcecado por bolinhos, a garotinha madura e segura, o garoto medroso, regrado e cheio de cautelas e a adolescente golpista e fria (destoando o par nerd), munidos pelo humor negro adotado na forma com que eles exterminam os zumbis –no caso de Harrelson principalmente–, como se fossem sacos de batata ambulantes e não pessoas. Para dar o toque final, as falas são repletas de analogias ao mundo pop atual - a atriz e cantora Hanna Montana, por exemplo -, o que não tira a graça de uma frase idiota retirada de algum filme que não seja lançamento, como quando Harrelson vai se despedir de Eisenberg e diz algo como “Vai lá, porco.” que, para quem não lembra, é a frase dita pelo fazendeiro Hoggett para seu porquinho pastor em Babe, O Porquinho Atrapalhado (George Miller).

Durante as filmagens os atores abusaram de improvisações e, por isso, adicionaram diversas falas aos seus personagens, o que pode ter sido o motivo do tom informal da produção. Mas nada se compara a surpresa que foi guardada a sete chaves até o dia do lançamento e que, se você não gostar de spoilers, pare de ler por aqui. A participação especial do ator Bill MurrAy interpretando ele mesmo deixa o espectador desacreditado, se questionando de que modo aquilo foi possível, de onde eles o tiraram e o porquê. Eu diria que quando você acha que eles não podem mais inventar algo completamente insano eles conseguem passar desse patamar e fazer uma homenagem ao ator em seus... Sei lá... Sete minutos de aparição, com direito a trilha sonora e sátiras de Os Caça-Fantasmas (Ivan Reitman) e da própria carreira de MurrAy. Não se assuste se a cena terminar e você se pegar rindo com cara de interrogação. Aliás, acredito que, para MurrAy, o filme foi uma ótima sacada para chamar atenção para que vem por aí, Os Caça-Fantasmas 3.

No mais, o filme é realmente uma boa pedida para esse início de ano e só tem um probleminha, você não espera que ele termine e, quando acontece, fica aguardando uma possível continuação. Mas, como é preciso se contentar com os 80 minutos da produção e repetindo o que diz Tallahassee várias vezes no decorrer do longa, aproveite as pequenas coisas, pois é a união delas que faz de Zombieland um bom filme.

Ah! Não esqueçam de esperar os créditos finais. Há também uma pequena coisa ali.

"É hora de enloquecer ou emudecer!" - Tallahassee